Graziele Delgado e Evandro Valereto (Foto: Arquivo Pessoal/ A Cidade)
Olá, querido(a) leitor(a). Tecnicamente, a Black Friday já passou, mas ainda existem algumas promoções rodando por aí, aparecendo como o “último suspiro” para aquela “oportunidade única”. Essa promoção é muito poderosa porque une alguns gatilhos muito fortes para nós, seres humanos: a urgência de comprar tudo em um único dia, a escassez de produtos selecionados, o movimento de manada em que todos estão participando, menos você, e por aí vai. Apesar da promoção específica ter acabado, hoje queremos compartilhar uma experiência em que quase fomos vítimas dos gatilhos de compra: o objetivo é te apresentar outros estímulos escondidos no nossos dia a dia, quase imperceptíveis, mas que podem representar armadilhas da sua vida financeira.
Sempre falamos por aqui sobre o quanto somos influenciados pelo ambiente e os estímulos diários aos quais estamos expostos. Se você nos acompanha com frequência, já sabe que nosso cérebro é uma máquina de buscar prazer no agora e, quase sempre, não vai resistir. Por isso, o ideal para não cair em tentação é diminuir sua exposição a estímulos diários de compra. Só que promoções específicas como uma Black Friday é um gatilho fácil de reconhecer e evitar: o problema mora naquilo que é mais sutil e cotidiano da nossa vida. E aqui começa nossa história.
Estamos vivendo um processo em que teremos a oportunidade de estudar fora no país: passaremos uma temporada no Canadá. Ansiosos por esse dia, começamos a arrumar as malas no planejamento que tínhamos feito e, em plena quarta-feira à tarde, percebemos que teríamos que comprar uma mala extra. Já era tardezinha quando decidimos que esse era o único caminho possível e resolvemos dar uma volta pelo comércio para entender as opções – “vamos aproveitar a Black Friday”. Depois de uma rápida pesquisa pela internet para ancorar os preços promocionais, saímos para ver opções.
Até aqui, nada demais: uma compra necessária disfarçada de ótima oportunidade de promoção. Tinha tudo para dar certo – e gastarmos um dinheirão à toa. Parece algo cotidiano, que não tinha como dar errado, mas a verdade é que aqui existem tantos gatilhos irracionais que chega a ser assustador. O primeiro deles é a própria necessidade de “resolver rápido” a situação: continuar organizando as malas dependia dessa decisão, e esse sentimento de praticidade teria nos colocado em maus lençóis.O segundo ponto que merece atenção é a escassez de tempo para decidir: o horário comercial estava chegando ao fim e, com isso, o tempo para escolher a tal da mala era muito limitado – este é outro motivo que nos leva a tomar tantas decisões de compra ruins. Veja: esses dois gatilhos estão presentes na sua vida o tempo todo, independente da época do ano ou da promoção vigente – quantas vezes você tem gastado muito mais dinheiro na pressa de resolver? Quanto a mais você gasta no supermercado, todas as vezes, só porque está comprando após o turno de trabalho, cansado(a), estressado(a), quando sua única vontade é querer chegar em casa?
A Black Friday, nesse caso, foi só um detalhe. Os maiores inimigos do nosso dinheiro está escondido no dia a dia, disfaçado de hábito e praticidade, e nós sequer percebemos. A mala não foi comprada nesse dia: ao perceber todo o contexto envolvido, apenas fizemos uma pesquisa de preço e voltamos para a casa – ainda tínhamos uma semana para resolver a questão. E este é outro ponto importante: o planejamento e a antecipação. Se estivéssemos fazendo as malas na própria semana da viagem seria mais desesperador e teríamos mais estímulos irracionais agindo contra nós. Por fim, conseguimos comprar uma mala bem mais barata de segunda mão, que atendeu nossa necessidade sem que precisássemos gastar muito: uma ótima solução que nos custou um terço do preço. Um ato de mesquinhez para alguns? Pode até ser, mas economizar na mala significou sobrar dinheiro para viver outras experiências ou comprar outras coisas necessárias. Por que, no final do dia, toda escolha é uma renúncia.
Por que estamos te contando essa história? Para que você entenda que antes de Black Friday, Natal ou qualquer outra data que envolva compras e promoções, existe você: um ser humano cheio de hábitos, emoções, com racionalidade limitada, imerso em um mundo cheio de estímulos para te fazer comprar e gastar com o que não é necessário. O preço disso é viver refém de um trabalho que você não gosta, de um tempo que te falta para ficar com quem você ama, a realização dos seus sonhos e a oportunidade de dizer “não” para o que não faz sentido para você. É desafiador ter uma vida financeira equilibrada? Sim, todo começo é difícil, mas é sobre a construção de um hábito. Torne o equilíbrio – financeiro, de saúde, de relações – um hábito na sua vida. E a única forma de “chegar lá” é começar. Tenha uma excelente semana, querido(a) leitor(a).