Graziele Delgado e Evandro Valereto (Foto: Arquivo Pessoal/ A Cidade)
Olá, querido(a) leitor(a). Não é novidade para ninguém que vivemos em um país endividado – e talvez, você até esteja nesta estatística. Inegavelmente, não é simples sair dessa situação: ao tentar resolver o problema, muitos acabam se afundando ainda mais, acumulando prestações de empréstimos, parcelamento da fatura do cartão de crédito e assim por diante. Há algumas semanas falamos sobre um método de pagamento de dívidas que ferra o endividado: buscar empréstimos para cobrir os buracos sem olhar para o que realmente precisa ser feito. A questão é que, quando falamos de dívidas, precisamos tirar o elefante da sala, o que poucas pessoas (e poucos profissionais financeiros) realmente o fazem.
A expressão “tirar o elefante da sala” significa que existe um problema enorme, mas não queremos falar sobre ele: ignoramos sua existência. Isso ocorre quando os endividados tentam resolver a dívida cortando gastos da rotina – o cafezinho, o supermercado, lazer, o autocuidado -, mas não conseguem resolver o real problema: o padrão de vida. Existem duas escolhas que impactam diretamente sua vida financeira: o carro que você tem e a casa em que você mora. Ambos trazem consigo uma cascata de gastos que raramente são considerados. A escolha do carro vai determinar seu custo: quanto mais caro o bem, mais caro sua manutenção (seguro, IPVA, combustível, depreciação, revisões, troca de pneu, etc.). O mesmo ocorre para a casa escolhida como moradia: todo bairro traz consigo os custos do supermercado, da padaria, do posto de combustíveis, dos comércios ao redor, etc. Também existe o tamanho do imóvel, que carrega custos de energia, água, tempo para limpeza e manutenção, etc. E o problema está aqui: enquanto tentam cortar todos os gastos possíveis, as pessoas não olham para o consumo com casa e carro e acabam ignorando o elefante na sala, perdendo sua qualidade de vida, fazendo zilhões de sacrifícios, e isso não é suficiente para reduzir a dívida.
Isso é humano: Daniel Kahneman chamou esse viés de “efeito dotação” – uma tendência em supervalorizar aquilo que já possuímos. Também existem aqui mais dois vieses: a aversão à perda e o status quo – ambos te fazem ignorar o problema porque morar neste lugar ou ter este carro faz parte da realização de um desejo, de uma conquista e você não quer “voltar atrás”. Acontece que ignorar essas escolhas pode fazer toda a diferença na mudança do seu cenário financeiro: algo que poderia ser resolvido mais rápido e de forma menos dolorosa se arrasta por anos, ou nunca tem uma resolução definitiva.
Qual é o caminho para não se enganar? Trabalhar com previsões. Como ficaria sua vida se você gastasse menos com esses itens? Se você morasse mais perto do trabalho? Se você tivesse um carro mais barato e mais econômico? Às vezes, tentar cortar os gastos do dia a dia sem questionar essas duas escolhas vai te colocar em um lugar de fazer muito sacrifício e não conseguir sair do problema. Veja: nada é definitivo nessa vida. Como diz o Tio Ricco, “se você está no caminho errado, voltar significa progresso”. Portanto, antes de se matar para conseguir viver uma vida de sacrifícios apenas para manter o carro e a casa, olhe para esses “elefantes na sala”. Fazer essa escolha agora pode mudar completamente o rumo da sua vida financeira, te levando a trabalhar menos e realizar mais, conquistando mais qualidade de vida.