Graziele Delgado e Evandro Valereto (Foto: Arquivo Pessoal/ A Cidade)
Olá, querido(a) leitor(a). Está aberta a temporada do natal: aquele momento incrível em que você sai na rua para passear, vai ver as apresentações da cidade, tem todas as festinhas e comemorações da empresa, amigo secreto, reunião familiar e, claro, o sonho do reveillón da praia. É óbvio que tudo isso, junto, representa um grande arrombo no seu bolso – nem precisa ser especialista em finanças ou vidente para saber disso. Mas, existem formas de conter os danos e é sobre isso que queremos falar no artigo desta semana.
A maior armadilha desta época do ano é a compensação: por ter esse sentimento de que está acabando, muitos sentimentos se afloram por aqui. Se você teve um ano difícil, passou por algum problema de saúde ou na família, sente que trabalhou demais, passou alguns perrengues, – ou seja, viveu porque a vida é isso mesmo – chegou o momento do “eu mereço”. Milhares de decisões erradas, que vão comprometer todo seu ano de 2024, acontecem aqui. É essa sensação de compensar todas as coisas ruins ou desconfortáveis que aconteceram durante todo o ano que vai te fazer parcelar o reveillón na praia, porque você “merece”. É ela quem vai te fazer comprar presentes caros para as pessoas mais próximas, que aguentaram todo seu estresse e viveram esse ano difícil com você, porque elas merecem. É aqui que você parcela tudo o que é possível em dez vezes sem juros, sem ter feito o menor planejamento, afinal sua casa merece uma decoração digna de natal. Seus filhos, que começaram a ter dificuldade na escola, ou passaram parte do ano sozinhos porque você trabalhou demais, merecem o melhor presente que você puder der. E assim, seu 2024 já começa condenado, com mais da metade (ou quase inteiro) das suas receitas comprometidas em parcelas.
Além da compensação, nosso cérebro faz relações temporais: isso significa que a síndrome do “é tarde demais” aparece. Para que começar a fazer um orçamento agora, se já é dezembro? Para que começar uma dieta, cuidar da alimentação ou fazer alguma atividade física? Dezembro é a “sexta-feira” do ano, melhor deixar para começar na segunda-feira. Olha que mistura emocional incrível para travar qualquer melhora que você poderia fazer na sua vida: o sentimento de compensar todo o cansaço e coisas ruins do ano todo somado ao sentimento de que não dá mais tempo, é melhor recomeçar em janeiro.
Por último, mas não menos importante, vem o ambiente: sim, o mundo vai te influenciar a comprar o tempo todo, bem mais que o normal. Os estímulos de compra aos quais você está exposto(a) nesta época são desproporcionais. Primeiro, porque todas as festividades estão envolvidas com compras: o coral de natal, as apresentações, o horário especial do comércio. Mesmo que você decida não gastar muito, qualquer caminhada no centro da cidade vai custar, pelo menos, R$50,00 (especialmente se você tiver filhos). E o próprio comércio vai usar os sentimentos que descrevemos anteriormente para te induzir a comprar – tudo é feito milimetricamente para o consumo. Como se blindar disso? Estabeleça limites: ao sair na rua, saiba exatamente quanto você pode gastar e com o quê. Leve o dinheiro contado – evite cartões ou qualquer outro método de pagamento que diminua sua sensação de estar comprando. Planeje: quantos presentes você vai dar? Para quem? Quanto vai custar cada um?
Lembre-se: toda decisão ruim agora vai virar uma parcela extra em janeiro. Isso sem nem contar todos os impostos, material escolar e boletos que vão chegar a partir do dia 2 de janeiro. Quanto mais você promover o “encontro de parcelas”, menos opções terá de fazer novas escolhas – 2024 será um ano condenado. A motivação para mudar de vida vai morrer na segunda semana, quando todas as faturas e boletos chegarem e você sentir aquela sensação de “não tem jeito”, se conformando com a situação. E assim você vai passando pela vida, tentando compensar em sextas-feiras e dezembros tudo o que poderia ter feito durante todo o ano, imaginando uma vida equilibrada que nunca chega porque você nunca dá o primeiro passo.
O começo pode ser agora: tomando decisões melhores, escolhendo não comprometer o ano novo com novas parcelas. O maior poder que você tem neste momento é a quebra de um ciclo – quanto antes conseguir, menos sofrida sua vida será. Lmebre-se disso ao tomar as decisões de final de ano (também serve para sextas-feiras). Tenha uma excelente semana, querido(a) leitor(a).