Graziele Delgado e Evandro Valereto (Foto: Arquivo Pessoal/ A Cidade)
Olá, querido(a) leitor(a). Temos recebido muitas perguntas a respeito de dívidas pelas redes sociais e, considerando a atual situação das famílias brasileiras, vamos falar hoje sobre um ponto delicado na vida financeira dos brasileiros: a acumulação de empréstimos. Tudo começa na melhor das intenções: a fatura do cartão dá aquela estourada, a conta corrente começa a ficar no negativo e a solução aprendida por muitos é buscar um empréstimo, cobrir a conta e vida que segue. Acontece que, para grande parte das pessoas, isso não para por aí: daqui a alguns meses a conta estoura de novo e começa uma saga em busca de crédito, até que as possibilidades fiquem cada vez mais escassas e grande parte da sua renda mensal fica comprometida pelas parcelas. Como sair dessa situação?
O grande erro está na busca pelo primeiro empréstimo: a sensação de resolver aquele problema da fatura estourada ou do uso do cheque especial mascara o problema principal: seus comportamentos de consumo. De modo bastante didático, a dívida é apenas um sintoma de uma doença mais grave e inconsciente: seu padrão para comprar. Com isso, você deixa de olhar para a raiz do problema e foca apenas no remédio – é exatamente o que te leva para o segundo e o terceiro empréstimos dentro dos próximos meses. No período de um ano, tentando resolver algo pontual, você está acumulando prestações e mais prestações, sem resolver o problema.
O que levou ao primeiro empréstimo foi a falta de controle diante dos seus gastos: você vai vivendo, passando o cartão e não a menor noção de quanto custa todos os meses. Acaba vivendo naquela máxima de “ganho R$3 mil por mês e gasto tudo, então custo R$3 mil”. E isso não é verdade: o advento do crédito nos permite gastar muito mais do que realmente ganhamos – você vai comprando tudo parcelado e jogando a conta para o futuro. O problema é que o futuro chega e cobra sua parte.
Para resolver o problema de forma definitiva, é necessário olhar com mais profundidade: quais são seus hábitos de consumo? Com o quê você gasta? Quando gasta? Quais contextos são mais tentadores? Que tipo de produto te faz “perder o controle”? Quais aplicativos tem istalados no seu celular? Com que frequência pede comida no aplicativo? Com que frequência vai ao supermercado? Compra roupas e sapatos? Faz compras online? Tudo isso é o que te leva ao negativo do banco e te deixa dependente de cartão todos os meses – é para isso que você precisa olhar para sair desse ciclo dos empréstimos.
Entenda e aceite: a racionalidade do ser humano é limitada. Tendemos a automatizar tudo, e isso serve para nossas compras: se não tomamos cuidado, pouco a pouco vamos afundando nossa qualidade de vida, nossos sonhos, nossa produtividade e nossa saúde mental em troca de parcelas. Junte isso à falta de informação técnica de como o crédito funciona e às metas das instituições financeiras, e você tem uma bomba para estourar na sua vida.
Portanto, muito cuidado, caro(a) leitor(a): o empréstimo é, sim, um instrumento para apagar alguns incêndios, mas é para momentos muito específicos, como imprevistos que realmente saíram do controle. Cheque especial negativo, fatura de cartão parcelada e limite estourado não são imprevistos: na maioria das vezes, são hábitos de compra. Enquanto você não olhar para seu dia a dia e trazer ferramentas que vão te ajudar a tomar decisões melhores, o empréstimo será apenas um remédio amargo que pode nunca ter fim. Tenha uma excelente semana, querido(a) leitor(a).