Graziele Delgado e Evandro Valereto (Foto: Arquivo Pessoal/ A Cidade)
Olá, querido(a) leitor(a). Nos últimos dias, zapeando pelas redes sociais, um fato nos chamou bastante atenção: muitas pessoas – muitas mesmo – reclamando do quanto janeiro está demorando para acabar, com seus mais de “50 dias”. Foram muitas figuras, memes e formas diferentes de dizer que o dinheiro acabou e está sobrando mês: você também vive essa sensação? Infelizmente, esta é a realidade para grande parte das pessoas - o dinheiro acaba antes do dia 20. O que fazer diante disso?
Se sua vida está neste patamar, provavelmente isso se repete todos os meses: o salário chega na conta, você paga alguns boletos, a fatura do cartão de crédito, e ele acaba. Então, você fica dependente do cartão de crédito até a próximo recebimento, rezando para que os dias passem depressa e nenhum imprevisto aconteça. Basta um simples resfriado para estourar o limite do cartão e te colocar em uma realidade de perrengues.
São vários pontos envolvidos nesta situação e, antes de qualquer coisa: “força de vontade” não tem nada a ver com isso. Talvez seja o primeiro mês que isso acontece na sua vida, talvez é a forma que você tem vivido nos últimos anos, e isso conta muito: uma vez que esse hábito está estabelecido, é mais difícil de mudar. Não é apenas sobre ficar dependente do cartão: consumir dessa forma é um comportamento que vem sendo repetido na sua vida há tempos, por isso é tão difícil mudar a situação. Isso não quer dizer que é impossível, mas você precisa entender que existe um processo e ferramentas adequadas: apenas sair preenchendo planilha não vai mudar nada.
Todas as nossas decisões dependem de cinco passos, do ponto de vista comportamental:
1) Estado fisiológico e metabólico: sono, fome, estresse, falta de rotina – tudo isso interfere no funcionamento químico do seu corpo. Seus comportamentos dependem de uma sopa química de processos que ocorrem no seu cérebro e é muito sensível a noites mal dormidas, falta de atividade física, alimentação ruim...Portanto, se você quer tomar decisões melhores, precisa se preocupar minimamente com esse funcionamento básico do seu corpo.
2) Repertório anterior: aprendemos algo porque fabricamos memórias. Você sabe que colocar a mão no fogo pode te machucar porque isso ficou memorizado no seu “arquivo cerebral”- seja porque você mesmo(a) experimentou, seja porque alguém te contou. Com seus comportamentos de consumo é a mesma coisa: se você nunca conseguiu poupar antes, esse comportamento é novo para você. O mesmo acontece para resistir a passar o cartão de crédito. Portanto, você precisa criar esse repertório novo: fazer diferente algumas vezes para criar essa memória de que é possível viver com outros comportamentos.
3) Consumo de energia: nosso corpo odeia gastar energia e sempre vai buscar o caminho mais fácil de fazer qualquer coisa. Estudar é um comportamento difícil porque demanda muita energia do nosso cérebro. Quanto mais “novo” um comportamento for para você, mais energia vai demandar. Por isso poupar, controlar gastos, ter orçamento são considerados difíceis: eles vão demandar energia, especialmente se você nunca fez antes. Passar o cartão é mais fácil: já está na sua programação automática.
4) Recompensa: o que você ganha em não comprar isso agora? O que você ganha em comer uma salada? Nosso corpo só repete comportamentos que possuem algum tipo de recompensa imediata – estamos falando de “recompensas químicas”, como a liberação de neurotransmissores que darão sensação de prazer e bem-estar. Por isso é tão importante ter um POR QUÊ, uma meta financeira ou um sonho a ser realizado – essa será a recompensa que vai te ajudar a tomar decisões melhores no dia a dia.
5) Tempo de recompensa: nosso cérebro odeia recompensas no futuro – ele quer agora. Por isso comportamentos como investir, poupar, fazer academia e manter alimentação saudável são tão difíceis – seus resultados estão muito longe, lá no futuro. Diante de uma recompensa que demora, acabamos desistindo. É o famoso “não ter disciplina para fazer o que precisa ser feito”. Por isso, a recompensa de um determinado comportamento não pode estar longe demais, senão, nossa tendência é desistir.
Disciplina não existe. Autocontrole não existe. Força de vontade é como combustível em um engarrafamento: acaba rápido. O que existem são microavaliações cerebrais que levam esses cinco pontos em consideração a cada novo comportamento. Por isso, não basta SABER o que precisa ser feito – você precisa de ferramentas que vão moldar suas decisões levando em consideração esses pontos, ou seja, seu funcionamento cerebral.
Portanto, não se sinta um(a) fracassado(a) se não conseguiu ainda organizar suas finanças ou ter um corpo mais saudável: você provavelmente só está tentando fazer de um jeito mais difícil do que deveria ser. Ficar dependente do cartão e não ter dinheiro pode ser um hábito na sua vida: algo tão enraizado que você nem consegue enxergar a vida de outro jeito. A boa notícia é que você tem um superpoder: quebrar o ciclo. E o único caminho é o conhecimento.
Esperamos que o artigo dessa semana te traga consciência de que nem tudo está perdido e que você pode mudar sua realidade, desde que esteja disposto(a) a buscar a solução: mas ela não mora nas planilhas, nem na “disciplina” - mora na sua cabeça e em como você toma decisões nos diferentes contextos em que vive. Tenha uma excelente semana, querido(a) leitor(a).