O frio intenso que assolou nossa cidade e região havia amainado, porém, a brisa fresca oferecia uma nesga suave, deixando o crepúsculo agradável. O céu, que horas antes estava com azul intenso, deixou-se tragar pela grande boca da noite. No firmamento, os astros cintilantes davam encantamento e beleza aos olhos de quem os admirasse. O alinhamento estava perfeito para o grande acontecimento.
Na manhã daquele dia, o “Diário da Região” publicou matéria de página inteira da competente jornalista Graziela Delalibera falando do documentário da dupla Reinaldo Volpato e Romildo Sant’Anna, “A Moda é Viola”. Eu havia recebido o convite de amigos, a reportagem reforçou ainda mais meu desejo de assistir ao filme.
Confesso que tenho saído muito pouco às noites. Prefiro ficar em casa, lendo, vendo filmes ou assistindo TV em canais segmentados, mas não podia deixar de comparecer ao evento dos meus “fratellos”. Cheguei ao Sesc pouco antes das 20h, e, no entanto, já havia fila formada para adquirir ingressos. No hall, à espera dos amigos e admiradores, os anfitriões recebiam a todos com enorme carinho. Estavam estampadas em seus semblantes a ansiedade e a expectativa com a pré-estreia. Afinal, foram mais de 10 anos de muito trabalho, dedicação, pesquisas, buscas e andanças, até que, finalmente, o grande dia havia chegado.
Não demorou para que o auditório completasse sua lotação. Nossos corações acelerados sentiam que poucos minutos nos separavam do início da projeção, até que, finalmente, as primeiras imagens iluminaram nossos olhos. Foram momentos de êxtase. A cada cena, o público cantava com a dupla ou aplaudia em cena aberta. O professor Romildo Sant’Anna, usando dos seus conhecimentos de livre-docente e sensibilidade de ator – que um dia fora –, nos envolveu em doces ensinamentos. Ele estava muito à vontade frente às câmeras, ora dialogando com as lentes, ora dialogando com a direção. Houve entrosamento perfeito entre os velhos amigos.
A direção do cineasta Reinaldo, com experiências tantas, mais uma vez foi explicitada. A emoção tomou conta do público e minha quando antigas duplas caipiras, as mesmas que ouvíamos na não menos antiga Rádio Nacional de São Paulo, no programa Edgard de Souza, surgiam na tela. Estavam ali, na minha frente, queridos ídolos, e pude, finalmente, vê-los cantando. Não teve preço ouvir “Pé de Ipê” com Tonico e Tinoco. Nesse momento, um misto de alegria e emoção tomou conta de mim, e me debulhei em lágrimas de puro contentamento.
Verdadeiras joias do cancioneiro caboclo foram resgatadas, como, por exemplo, o primeiro programa “Viola, Minha Viola’’, apresentado por Morais Sarmento, que, inclusive, chorou ao ouvir o compositor de “Cabocla Tereza”, João Pacífico, cantando no palco com Adauto Santos. Pude ver José Fortuna e Pitangueira em “Paineira Velha”, música preferida de minha mãe, que a cantarolava enquanto lavava roupas ou tirava água do poço.
Num dos trechos de sua fala, Romildo diz: “Tudo que for arte permanece”, contextualizando com o que hoje está aí. Duplas de sucesso rápido, mas que o professor, longe de fazer críticas, as respeita. Embora sejam de gosto duvidoso e longe da preferência de quem ama verdadeiramente a nossa moda caipira, que, erroneamente, a chamam de sertanejo raiz.
A noite de 30 de julho de 2013 ficará na minha memória como uma das mais emocionantes dos últimos tempos. Muito obrigado à dupla Reinaldo & Romildo, os encantadores do sertão!