Grazi Cavenaghi (Foto: Divulgação)
Olá, querido(a) leitor(a). É chegada a semana da Páscoa e, com ela, os infinitos parcelamentos no cartão: tem gente que vai dançar quadrilha, em junho, pagando a parcela do ovo de Páscoa. Obviamente, todo mundo já sabe que não compensa, que é caro demais e uma jogada comercial, mas por que ainda faz tanto sucesso? Porque saber que não compensa não é suficiente: somos irracionais e outros fatores influenciam essas escolhas. No artigo desta semana queremos te explicar o que tem por trás dessa compra e como você pode aproveitar a oportunidade para ensinar educação financeira para seus filhos.
Comprar ovos de Páscoa tem raízes distintas: a primeira é a norma social, que são regras sociais que pairam sobre nossas cabeças. São aquelas escolhas que ninguém questiona, só vai fazendo porque aprendeu que é assim: “tem que” ter carro aos 18 anos. “Tem que” ter casa para poder se casar – ainda que seja financiada. “Tem que” fazer uma festa de casamento caríssima, e assim por diante. Grande parte do endividamento das pessoas mora nas normas sociais: os “tem que” da vida, somado à falta de conhecimento básico financeiro, produz uma bomba na vida das pessoas. Comprar ovos de Páscoa é uma norma social – mal o carnaval acaba e os supermercados já ficam lotados – afinal, quanto mais tempo expostos, mais estímulos para gerar desejo.
O segundo ponto é a cultura: o que é considerado “normal” neste contexto. Aqui, a cultura pode seguir as normas sociais ou ser algo menor, no contexto da própria família. Algumas SEMPRE compraram ovos de Páscoa. Outras, nunca. Isso é uma cultura familiar: cada casa vai encarar essa escolha de um jeito - para alguns, vale à pena comprar, mesmo parcelando a alma, porque é como se as crianças fossem viver o maior trauma da vida porque não tiveram o negócio. E, aqui, estamos falando do significado que é dado para tudo isso.
O terceiro ponto é o pertencimento, que rege nossas escolhas desde que o mundo é mundo – foi por andarmos em grupo que sobrevivemos enquanto espécie. Imagina: todos os amigos do(a) seu(a) filho(a) ganham ovos de Páscoa, e só ele(a) não? Tadinho(a), só ele(a) não vai ganhar em meio aos primos? É uma tragédia para nossa irracionalidade e, sim, a depender da interpretação que se dá ao fato, pode realmente deixar uma cicatriz emocional profunda.
O quarto ponto, mas não menos importante, é o marketing. Obviamente, não existe a possibilidade de ir ao supermercado nessa época e não ter sua atenção desviada para os corredores imensos de ovos sobre nossas cabeças (por que será que são colocados assim?). Eles ficam espalhados nos corredores, com todas aquelas embalagens pensadas milimetricamente para te fazer desejar, despertar sua atenção e usar todos os gatilhos disponíveis de uma única vez. Levar uma criança ao supermercado, então, é pedir um problema: tudo foi feito e pensado para chamar a atenção e despertar o desejo.
O que fazer então?
Primeiro, definir as prioridades da família: se o ovo está caro demais e não cabe no bolso, será mesmo que vale à pena parcelar pelos próximos meses, em troca de alguns segundos de “alegria”? Que outras escolhas ficarão restritas nos próximos meses por causa dessa parcela? Que outros momentos não poderão acontecer na vida da família porque esse dinheiro já está comprometido?
Pela quantidade de chocolate, já sabemos que não compensa. Ao invés de criar uma dívida, porque não criar uma nova cultura familiar? Por que não aproveitar o momento para discutir significados e ajudar a fazer melhores escolhas? Ao invés de dizer para seus filhos que “não tem dinheiro” ou que custa “caro demais”, criando crenças de escassez, por que não ensiná-los a escolher? Utilizar o momento para fazer as crianças pensarem a respeito: comparar a quantidade de chocolate pelo preço, pensar em outras experiências que podem ser vividas com o mesmo dinheiro, fazer acordos criando novos significados e estabelecendo prioridades.
É errado comprar ovo de Páscoa? Não. Errado é se endividar sem nem pensar no assunto. É importante para sua família? Compre. Mas o faça entendendo os porquês, trazendo sentido, racionalidade e significado. Dê oportunidades para que seus filhos pensem em seus próprios porquês. Às vezes, essa importância toda está mais na sua cabeça de adulto (e sua criança interna, apegada em crenças passadas) do que na das crianças. Aproveite a oportunidade para ensinar sobre prioridades, escolhas e valor. Crie rituais que construam memórias afetivas: verdade seja dita – a última coisa que seus filhos vão se lembrar é a marca ou o ovo recebido. O ponto mais importante é: qual história eles vão contar para os próprios filhos sobre como passavam sua Páscoa? Pense nisso e tenha uma excelente semana, querido(a) leitor(a).