Graziele Delgado e Evandro Valereto (Foto: Arquivo Pessoal/ A Cidade)
Olá, querido(a) leitor(a). Da série “não temos rabo preso com ninguém”, vamos tratar de um assunto sensível aos vendedores: o consórcio. Sem dúvida, esta é uma das modalidades de compra parcelada mais populares entre os brasileiros. Vendidos como produtos praticamente sem risco, com custos melhores do que financiamentos, eles acabaram caindo no gosto popular por pura propaganda de marketing. No artigo desta semana, queremos te contar algumas verdades que nenhum vendedor de consórcio vai te contar: quais cuidados você precisa ter na hora de contratar este produto.
Em primeiro lugar, você precisa entender como ele funciona: se trata de uma “vaquinha coletiva”, em que cada pessoa paga uma parcela para comprar um item desejado. Imagine que você você gostaria de comprar um carro que custa R$50 mil, mas só poderia arcar com R$1000 mensais. De um modo muito simples e resumido, é como se você encontrasse outras 49 pessoas que aceitassem pagar os mesmos R$1000 e, a cada mês, uma pessoa do grupo receberia o dinheiro e compraria o item. Essa é a forma técnica bem resumida do funcionamento do consórcio.
Agora, vamos às particularidades do produto. Quem vai administrar o dinheiro? É aí que entram as instituições, que podem ser bancos ou administradoras. Obviamente, essas empresas possuem estrutura, funcionários e contas, portanto, não trabalham gratuitamente: todo consórcio possui uma taxa de administração embutida, alterando o valor final que você está contratando (atualmente, cerca de 20 a 25% do valor total).
Outro ponto é: e se alguém desistir no meio do caminho? Lembra que são 50 pessoas pagando a prestação por 50 meses (mais de 4 anos)? Neste meio tempo, imprevistos acontecem, pessoas perdem seus empregos, algum participante pode falecer... Para lidar com isso, normalmente as administradoras contraram seguros e, claro, isso também impacta o valor da parcela. Isso sem contar taxas e encargos. Portanto, como pode perceber até aqui: CONSÓRCIO NÃO É INVESTIMENTO. Pelo contrário: você paga mais caro do que o valor de mercado do bem, uma vez que precisa arcar com todas essas taxas, encargos, seguros, estrutura, etc.
Que fique claro: ao contratar um consórcio, você não está comprando um bem diretamente - está adquirindo uma carta de crédito naquele valor. Ou seja, você não comprará o carro diretamente: terá um documento que te dá direito a comprar um item que custe R$50 mil. E aqui começam os riscos que nenhum vendedor vai te contar. Primeiro, que o valor do item desejado pode mudar: por questões econômicas, oferta e demanda, guerras, cenários ou outras variáveis, o preço do carro que você gostaria de comprar pode aumentar. Neste caso, se você só tem R$50 mil e o carro subiu de valor, terá que escolher outro modelo que se enquadra na quantia, ou tirar dinheiro do bolso e complementar.
“Mas, no contrato que eu assinei diz que o valor da carta de crédito se corrige segundo a inflação do perído”. É aqui que existe o maior risco do produto: sua parcela pode subir INDEFINIDAMENTE, sem freio. Justamente por ter que fazer o reajuste do valor, existem variáveis sobre as quais a administradora não tem NENHUM controle: o cenário econômico. E se a inflação disparar? E se o preço do bem aumentar? E se o cenário econômico for desfavorável? E se muita gente desistir no meio do caminho? E se a administradora do consórcio quebrar? Exato: é você quem paga a conta (ou fica no prejuízo).
Com todos esses pontos esclarecidos, vamos resumir:
• Consórcio NÃO É investimento, é apenas uma forma de comprar parcelado.
• Não é verdade que é melhor que financiamento, uma vez que os riscos envolvidos são muito mais incrontroláveis e as parcelas podem subir indefinidamente.
• Não é mais seguro ou livre de riscos.
Este artigo não é sobre te convencer a não contratar o produto: é sobre trazer a realidade sobre os riscos envolvidos. Infelizmente, na ânsia de vender, não existe o cuidado de esclarecer todos os pontos para os clientes. E, claro, as pessoas assinam contratos sem ler as “letras miúdas”, o que faz grande parte da população assumir riscos desnecessários e terminar no prejuízo.
Portanto, todo cuidado é pouco: nós, enquanto consumidores, precisamos ter mais conhecimento sobre o funcionamento dos produtos à nossa disposição, além de conseguirmos, de fato, fazer uma boa gestão de risco do nosso dinheiro. Essa é a base para comportamentos financeiros saudáveis e decisões inteligentes. Por que todos esses riscos não são colocados “na mesa” diante da venda? Será que se tudo fosse dito de forma transparente, o produto continuaria sendo tão popular? Por que certas características “não podem” ser mais transparentes na hora de vender? Fica a reflexão! Não seja um refém, querido(a) leitor(a)! Por aqui, te damos a carta de alforria! Tenha uma excelente semana!