Para visualizar a notícia, habilite o JavaScript na página!
Impressão bloqueada!
Para compartilhar esse conteúdo, por favor utilize o link http://www.acidadevotuporanga.com.br/artigo/2024/04/o-que-nunca-vao-te-contar-sobre-financiamentos-n79918 ou as ferramentas oferecidas na página. Se precisar copiar trecho de texto para uso privado, por favor entre em contato conosco pelo telefone (17) 3422-4199 ou pela nossa central de atendimento: http://www.acidadevotuporanga.com.br/atendimento/fale-conosco
Artigo
O que nunca vão te contar sobre financiamentos
Coluna semanal Dinheiro a dois por Graziele Delgado e Evandro Valereto
Graziele Delgado e Evandro Valereto (Foto: Arquivo Pessoal/ A Cidade)
Olá, querido(a) leitor(a). O assunto desta semana é polêmico: vamos falar sobre financiamento. Os números não mentem: apenas em 2023 foram quase 1 milhão de casas financiadas: cerca de R$261 bilhões em recursos liberados para moradia. Esse é, sem dúvidas, o modo mais popular de se adquirir casas no Brasil, o que não significa que seja o melhor e não apresente riscos envolvidos – mas nenhum vendedor ou gerente vai te contar essa parte. Neste artigo queremos falar um pouco sobre o assunto de um ângulo diferente: pelo olhar de quem não ganha nada com sua escolha. Seja pela crença de que “é melhor pagar a parcela do que o aluguel” ou pelo desconhecimento de como o crédito funciona, o que a maioria das pessoas analisa na hora de contratar o financiamento é o valor da parcela. Ao ser comparada com o aluguel, não é difícil que as pessoas aceitem as condições sem ler as letras miúdas. Mas, o que seria um sonho tem muitas chances de se tornar um pesadelo por causa do risco e do preço de se fazer um compromisso assim por tanto tempo – 15, 20 ou 30 anos. Para que fique mais claro, queremos trazer alguns dados de um financiamento real. Considere que João nunca teve problemas financeiros e tem tudo sobre controle, mas viu no financiamento de um imóvel a chance de “investir” seu dinheiro, com o objetivo de ganhar o aluguel. O pensamento foi bem simples: o inquilino paga a parcela, isso cobre o financiamento e, no final, se termina a vida com um imóvel. O valor financiado foi de R$89.928,50, com 360 parcelas de R$715. Apenas com esses dados já chegamos a um dado importante: no final, o imóvel vai custar R$ 257.400,00: serão pagos R$167.471,50 apenas de juros. Ainda que não tivesse muito conhecimento técnico, os números, por si só, já deveriam trazer certos questionamentos e fazer pensar a respeito da decisão final. João seguiu seu instinto e fechou o contrato. Cerca de 6 anos depois, ao entrar em seu aplicativo, João se depara com os seguintes números:
Foram pagas 65 parcelas de R$715, o que totaliza R$46.475,00.
Porém, seu saldo devedor segue em R$ 84.939,09. Isso significa que menos de R$5 mil foram realmente pagos – todo o restante foi juros.
Além disso, a casa está alugada a R$600,00 (e, portanto, não cobre o total da parcela do financiamento) e o inquilino não é um bom pagador: acaba atrasando seus compromissos, enrola para efetuar os pagamentos, etc. Isso sem contar que, vez em quando, existem manutenções a serem feitas no imóvel, além das reformas em todas as trocas de inquilino. Moral da história: essa conta não fecha. Então, analisando tudo isso, João resolveu que não vale à pena ter o imóvel e vai vendê-lo, o que nos leva a mais uma questão: o preço de venda em nada se relaciona com o que ele já pagou do financiamento ou já gastou com manutenções. Agora, vai depender dos preços que estão sendo praticados no mercado imobiliário, do contexto econômico, do bairro que o imóvel está localizado e assim por diante – variáveis com pouco controle e que podem fazer João sair no prejuízo (isso sem contar que pode levar anos para vender a casa, enquanto precisa continuar pagando as parcelas). O que queremos te alertar nessa história é que, apesar de ser muito popular, o financiamento imobiliário é tão arriscado quanto investir em ações da bolsa de valores. Essa realidade de ser algo “garantido”, e que, certamente, vai valorizar e ficar mais caro, não existe mais. Existem muitos riscos em fazer um compromisso de pagamento de tão longo prazo, mas praticamente ninguém faz análise ou gestão desses riscos – justamente o que pode tornar o “sonho”um pesadelo, e ainda inviabilizar outras realizações na sua vida. O que acontece na prática: mesmo que nada der errado no caminho (você não perder sua renda, conseguir pagar sempre certinho e nunca passar nenhum perrengue), as pessoas acabam financiando o melhor imóvel que podem pagar. Isso significa que as parcelas pegam uma parte significativa da renda familiar, diminuindo as escolhas que a família tem a cada mês – por consequência, impactando a qualidade de vida da família por anos e anos. Outras viagens e experiências não serão vividas porque a prioridade é pagar o financiamento. Mas tem muito espaço para dar errado: você pode perder parte da sua renda no caminho e o principal: a flexibilidade diante da vida. Pode parecer que não, mas comprar o imóvel vai te fazer fechar os olhos para outros caminhos que seriam possíveis, já que daria muito trabalho vender e fazer toda a burocracia. Também existe a questão do apego emocional a esse bem: já está pagando do jeito que você queria, colocou os móveis dos seus sonhos, gosta do bairro e da cidade que mora, etc. Tudo isso teria um peso muito diferente na hora de avaliar oportunidades, o que fecharia o leque de experiências as quais você estaria disponível para viver. Isso quer dizer que você nunca deveria fazer um financiamento? De jeito nenhum. Mas o QUANDO e o COMO importam. Você precisa entender as regras do jogo para ser estratégico em utilizá-las: quem possui garantias SEMPRE vai ter privilégios e benefícios na hora de utilizar o crédito. Isso significa menos juros, mais possibilidades e mais controle dos riscos. Ninguém deveria pensar em financiar algo sem ter um mínimo de patrimônio acumulado: além de ter reservas, esse dinheiro serviria como garantia e traria condições muito melhores de negócios. Portanto, apesar de ser o meio mais utilizado para comprar imóveis, não existem garantias e a gestão de risco precisa ser pensada. Para se blindar de problemas, você precisa fazer uma previsão bem realista do que poderia dar errado no caminho e o que você faria diante dessas situações. Em um país em que 80% da população está endividada, fazer o que é mais popular pode não ser a melhor escolha – será que se a maioria das pessoas tomassem boas decisões, esse seria o nível de endividamento? Em um contexto aonde o “normal” é estar endividado, com parcelas penduradas, escolhendo quais contas pagar, vivendo no cheque especial, talvez seja melhor não seguir a maioria e questionar bem suas escolhas. Tenha uma excelente semana, querido(a) leitor(a).
Notícia publicada no site: www.acidadevotuporanga.com.br
Endereço da notícia: www.acidadevotuporanga.com.br/artigo/2024/04/o-que-nunca-vao-te-contar-sobre-financiamentos-n79918
Para compartilhar esse conteúdo, por favor utilize o link {{link}} ou as ferramentas oferecidas na página. Textos, fotos, artes e vídeos do jornal A Cidade estão protegidos pela legislação brasileira sobre direito autoral. Se precisa copiar trecho de texto para uso privado, por favor entre em contato conosco pelo telefone (17) 3422-4199 ou pela nossa central de atendimento: http://www.acidadevotuporanga.com.br/atendimento/fale-conosco