O poeta e compositor Vinícius de Morais foi diplomata no Uruguai, na França e nos Estados Unidos. Questionado por um amigo estadunidense sobre sua volta ao Brasil, escreveu o poema “Escute aqui, sr. Buster”: “Me diga sinceramente, sr. Buster, o senhor sabe lá o que é um choro de Pixinguinha? O senhor sabe lá o que é ter uma jabuticabeira no fundo do quintal”?
Na roça, quando menino, o 8 de dezembro era aguardado não só pelo feriado de Imaculada Conceição, mas, também, depois desse dia, pela colheita da tão esperada gabiroba.
Nos últimos cinco ou seis anos, todo ano, eu e meu cumpadi Dimirsu – Edmilson Zanetti –, nessa época, temos ido aonde alguém diz da possibilidade de encontrar pés da fruta. Em todos eles, nossa busca deu em nada. Ficou a frustação.
Em conversa sobre o dia santo com meus “cumpadis” Antônio Sinhorini e Saulo Gonçalves dia desses, lembrei que, a partir dessa data, as gabirobas amadurecem nos campos. Pena que não tenhamos mais pés por essas bandas. Sinhô olhou para o outro amigo e sorriu. Claro que ainda restam alguns, disse Saulo.
No feriado, logo de manhãzinha, embarcamos os três na aventura de procurar as tais frutinhas. Zanetti estava em Viladorfo e não pôde ir. Confesso que estava ansioso. Há muito não via nem sequer um pé pra remédio.
Não demorou e meus amigos pediram para eu parar o carro. Tínhamos chegados à uma restinga, uma nesga do que sobrou da Mata Atlântica nos arredores de Rio Preto. Por milagre, ainda preservada. Pensa num caboclo emocionado quando convidado a entrar na mata! Atravessamos a cerca de arame farpado. Um imenso pé de jenipapo me chamou atenção ao sentir de longe o aroma das frutas maduras. Ligeirinho, ouvi de lá de dentro um grito de que tinham encontrado não um, mas vários pés carregados. De onde eu estava até onde me chamaram, passei por pés de marolos e de marmelos e uma moita de gravatás.
Vocês não têm ideia do que, depois de tantos anos, é ver os pés carregados das deliciosas frutas amarelas indicando que estavam maduras. Há mais de 40 não via nada parecido. Aproveitei e trouxe um pé pequeno e plantei no fundo do quintal.
Chegando em casa, fui pesquisar sobre da fruta na internet. Li que é abundante no cerrado brasileiro. Pertence à mesma família da goiaba.
Nome originado da língua tupi, gabiroba também pode ser traduzido como “fruto da casca amarga”. É planta nativa e rústica, que apresenta diversos gêneros e espécies muito comuns nas regiões tropicais, sobretudo da América do Sul. No Mato Grosso do Sul, é conhecida como guavira.
Pra me regalar ainda mais, uma semana depois ganhei do amigo Carlos Canheo, delegado de polícia e ex-prefeito de Monte Aprazível, um generoso punhado delas. E, como não podia deixar de ser, bom coração que sou, reparti umas mãozadas cheias com meu cumpadi Zanetti. Não sem antes lhe dizer que ele é um baita de um pé frio no quesito caçar gabiroba.
Parafraseando Vinicius, você sabe lá o que é ter um pé de gabiroba no fundo do quintal?