Jocelino Soares (Foto: Divulgação)
Recebi ligação da minha colega de farda sargento Cristiane (Jatobá convidando para uma cerimônia que seria realizada no CPI/5 (Comando de Policiamento do Interior), sob comando do coronel Fábio Cândido. Perguntei qual o motivo da reunião. Ela me disse tratar-se de uma homenagem à “mãe de todos nós”. Afinal, somos todos filhos da mãe, disse-me. Essa mãe à qual minha colega se referiu trata-se da subtenente Marilda Coelho Reis, que estava completando 50 anos de formada nas fileiras das policiais femininas da Polícia Militar do Estado de São Paulo, iniciada no longínquo ano de 1973, na capital. Hoje, está reformada.
Ela nasceu em 1949 em Araçatuba. Ouviu no rádio que, em São Paulo, a Policia Militar tinha aberto inscrições para policial feminino. Aprontou as malas e partiu em direção à capital para se instalar na casa da irmã Cecília, que a acolheu de braços abertos.
Prestou todos os exames e foi passando um a um. Sua emoção maior foi quando, durante a escola de sargentos, se viu fardada. O azul da farda se confundia com o azul do céu de sua Araçatuba. Tinha deixado para trás os pais, irmãos e a cidade que tanto amava. A vida é feita de ciclos. Ciclos que se abrem, ciclos que se fecham. A cidade grande em princípio assusta, com o passar do tempo a gente se acostuma, disse-me certa vez.
Casada com o famoso compositor de “Meu reino encantado”, Valdemar Reis, ele também policial militar. Tiveram dois filhos: Valdemar e Vagner, o Vaguinho. Segundo Valdemar, o irmão teve relacionamento com uma moça. Algum tempo depois, nasceu Hiago. Com o passar dos anos, notavam que seus traços eram diferentes de todos da família. Fizeram teste de DNA, constatou-se que não era filho do caçula. A mãe biológica, assim que ficou sabendo, correu à família dizendo que não podia criar o menino. A subtenente Marilda, boa alma que é, registrou o menino que antes era neto, agora passou a ser seu filho. Hoje ele é casado e pai de duas crianças.
Em 1987, foi criado em Rio Preto o primeiro pelotão de policiais feminino. A então sargento Marilda foi transferida da capital para, em companhia da tenente Bernadete, cuidar das alunas. Ao término do curso, a sargento ficou no comando do destacamento, que se uniu à companhia de trânsito, cujo comando era do então capitão Furlaneto, hoje coronel da reserva.
Com a vinda das policiais femininas para nossa companhia, vieram também as sargentos Jacira, Zanelatto, Terezinha e Alaíde. Elas deram colorido especial ao batalhão. A sargento Marilda, em pouco tempo, passou a ser a mãe de todos nós, tanto do masculino quanto do feminino da 1ª companhia. Tratava a todos com muito carinho, sem distinção. Tinha sempre uma palavra de conforto a quem necessitasse. Quando mereciam, “puxava” a orelha do policial, com firmeza.
Em 1993, fiz exposição individual na Tok Galeria de Arte, na capital. No dia do vernissage, recebi artistas e amantes das artes. Qual foi minha surpresa ao ver entrar, para curiosidade dos presentes, a sargento Marilda trajando o belo uniforme azul e, nos braços, um ramalhete de belas flores.
Cinquenta anos se passaram desde sua formatura. Senhora Marilda, saiba que terá sempre o carinho de todos nós, homens e mulheres. Seremos sempre, para sua honra e glória, “os filhos da mãe”.