Naqueles tempos difíceis da roça, o caboclo, além de conviver com as agruras do dia a dia, serviço pesado e desgastante, rezava para que, ao plantar, a chuva viesse na medida certa. Se fosse em excesso, a plantação morria. Com a falta dela, as plantas também morriam. Sol demais ou sol de menos e as temíveis geadas eram preocupantes. Não bastasse tudo isso, tinha ainda os valentões, os justiceiros, os ladrões de cavalo e de gado. O caipira vivia de sobressaltos.
Em nossa região, tivemos Anibal Vieira, inclusive, escrevi há algum tempo sobre ele aqui neste espaço. Na região de Botucatu, viveu o matador Diogo da Rocha Figueira, o Dioguinho. A fama deles atravessou fronteiras.
É bem provável que a psicologia explique a virada na “chave” comportamental dessas pessoas para que haja um elemento disparador. Eram pessoas normais e, de um momento para outro, tornaram-se cruéis e sanguinárias.
Anibal Vieira vivia com a família no bairro rural do Cipó Torto, em Onda Verde, nos anos 1930. A casa à beira da estrada ligava Rio Preto a Nova Granada. Ele tinha uma irmã de 15 anos, muito bonita, mas com problemas mentais. Ficava à beira da linha, acenando aos passantes.
Era Carnaval. Três homens, dois soldados e um funcionário da Câmara de Vereadores alugaram um táxi e foram passar os dias de Momo no rio Turvo. Na ida, viram a mocinha na beira do caminho, acenando. Ficou acertado entre eles que, se ela estivesse ali na volta, iriam raptá-la. Choveu muito à noite, impedindo a pescaria. Resolveram voltar. Para infelicidade, a mocinha estava lá.
À tarde, quando a família voltou da roça, deu pela falta da menina. Procuraram em todos os lugares possíveis. Quando amanheceu, viram rastro de automóvel que tinha dado marcha a ré, bem onde ela ficava, e as marcas dos pezinhos dela.
Depois de muito procurar nas redondezas, foram para Rio Preto e a encontraram numa casa de prostituição. Anibal levou a menina embora e prometeu voltar e vingar a irmã. Tempos depois, voltou, matou os dois soldados, o funcionário da Câmara e o motorista do carro de aluguel. Tomou gosto pela coisa.
No último 1º de maio, completou 126 anos da morte de Diogo da Rocha Figueira. Nasceu em 9 de outubro de 1863, em Botucatu.
Dizem seus biógrafos que ele eliminou mais de cem pessoas.
Primeiro crime: certo dia, ao chegar em casa à noitinha, encontrou seu irmão Joãozinho, menor de idade, chorando. Entre lágrimas, contou que o porteiro do circo tinha lhe desferido um tapa na cara. Foi ao encontro do homem, que confirmou o bofete e completou dizendo que o menino era folgado, queria entrar sem pagar. Dioguinho sacou do punhal que levava na cinta e desferiu um golpe mortal. Também tomou gosto e não parou mais.
O escritor João Garcia, autor do livro “Dioguinho, o matador dos punhos de renda”, fala de sua sexualidade. Conta que o pistoleiro teve um caso com o filho de um fazendeiro. Para a época, foi um escândalo. O pai foi contra o “idílio”. Diogo não teve dúvidas, assassinou o pai do seu namorado.
Tanto Anibal quanto Dioguinho foram justiceiros para uns, pistoleiros de aluguel para muitos.