Em 1837, segundo relatos históricos, dez famílias, entre adultos e crianças, partiram de São Sebastião do Paraíso, nas Minas Gerais, em direção ao sertão desconhecido do noroeste paulista. Rio Preto viria a ser fundada somente 15 anos depois, por João Bernardino de Seixas Ribeiro. A caravana, depois de muitos dias de viagem em meio aos picadões, chegou, enfim, ao destino.
O local foi batizado de São João da Boiadeira. Está encravado entre Rio Preto, Guapiaçu e o distrito de Talhado, segundo nos contou dona Joventina Coelho da Silva, 85 anos, viúva do senhor Pedro José da Silva Neto, Tina, para os conhecidos, hoje falecida, em depoimento em 2009 para o livro “Na Região da Boiadeira”. Foi escrito por mim, Antônio Carlos de Carvalho e Adriano Ferrari. As festas de São João eram algo muito especial. Fui informado pelo meu cumpadi João Carlos de Carvalho, antigo morador do bairro, que ontem dia de São João, foi o último dia das festanças no arraiá desse ano.
Dona Tina nos relatou que muito antes de elas serem realizadas na atual igreja, construída em 1934, em terreno doado por Francisco Cassiano, junto à venda do Clarindo Tiradentes, as festas eram na capelinha dos Pintos, um pouco mais afastada do local em que hoje se encontra a atual.
Depois do terço, tinha a procissão com o andor do padroeiro, o mastro era levantado e davam vivas aos três santos: Viva Santo Antônio! Viva São João” Viva São Pedro! E todos os fiéis, agradecidos pelo bom ano da colheita gritavam em uníssono: viva!
As prendas ofertadas pelos devotos eram leiloadas em alto e bom som. Aliás, eram gritadas, microfones não havia e a coisa era no gogó mesmo. A renda era revertida para a igrejinha.
O momento mais aguardado por moços e moças havia chegado. Era a hora do grande baile. Nesse instante, os jovens que namoraram de “zóio”, como se dizia, ou seja, paqueravam à distância, iam ao encontro de suas pretendentes e, num ritual de muita magia, ofereciam a mão esquerda para dama e, com todo respeito, colocavam a mão direita em sua cintura, guardando respeitosa distância do corpo da moça.
Muita emoção para ambos, com as pernas bambas e as mãos frias, o rapaz enchia-se de coragem e se declarava para a caboclinha. Ela, toda dengosa, acenava afirmativamente com um meneio de cabeça que tinha aceito a declaração. Pronto. Estavam namorando. E não passava disso, até o dia do casamento.
O local quase virou vila. Tinha açougue, barbearia, máquina de benefício de arroz e café, venda de secos e molhados e campo de futebol. Hoje, somente a igreja e o salão de festas permanecem em meio ao bucolismo do bairro rural do São João da Boiadeira. Infelizmente!