Tenho passagens com vários artistas caipiras de quando eu trabalhava na fiscalização como guarda de trânsito da minha querida Polícia Militar nas ruas de Rio Preto. As duplas faziam de nossa cidade um polo. Aqui ficavam durante o dia e à noite iam fazer shows em circos nas cidades das redondezas. Depois voltavam para pousar em Rio Preto. Durante o dia, era possível vê-los nas imediações da rodoviária. Vi mais de uma vez a dupla Chitãozinho e Xororó, em começo de carreira, entrando e saindo de hotéis na região central, Milionário e Zé Rico e mais um bocado deles. O Tião Carreiro ficava hospedado na casa do Donizete, que faz dupla com seu irmão Divino. Aliás, tinha um aposento reservado pra ele. Tinha, inclusive, a chave da casa para entrar e sair a hora que bem entendesse.
Certa manhã, estava eu de plantão na rua Pedro Amaral, quando vi um senhor se aproximar. Usava chapéu. Pensei tratar-se de alguém para pedir informação. Se aproximou, me cumprimentou com leve sorriso de bom dia. Até então nem imaginei de quem se tratava. Quando ia responder ao cumprimento, meu coração disparou. Estava diante de mim aquele homem que o Edgard de Souza, locutor da Rádio Nacional de São Paulo, apresentava como “sua majestade, o rei do pagode”. Imediatamente tomei posição de sentido, levei minha mão espalmada até a fronte, prestando-lhe continência. Senti que ele ficou emocionado com minha atitude. Sorrindo, também levou a mão até a aba do chapéu, saldando-me ao modo dos caboclos antigos. Agradeceu meu gesto e perguntou sobre a dupla Roberto e Meirinho. Disse-lhe que os tinha visto em direção ao bar Salada Paulista. Quando se foi, se misturou aos passantes e ninguém o reconheceu. Mal sabiam que ali estava indo um rei. Infelizmente, a dupla Tião Carreiro e Pardinho não viu o sucesso chegar aos moldes das duplas atuais, em que os shows levam uma parafernália de equipamentos de som e luz, gastam milhares e se ganham milhões.
Quando a dupla Tião Carreiro e Pardinho — batizados de José Dias Nunes e Antônio Henrique de Lima — se desfez, era Donizete quem fazia a primeira voz. Certa noite, se apresentaram em Barretos. No dia seguinte, tinham show em Ituiutaba, Minas Gerais. Quando passavam por Frutal, a madrugada ia alta. Tião disse que ali morava Símbio Amândio, seu cumpadi. Resolveram fazer-lhe serenata. Com a cantoria, o homem acordou. Morava num sobrado. Abriu a janela e chorava feito criança com a bela homenagem. Divino só assuntava. O dia clareava. Nisso, chegou um caboclinho de bicicleta, parou no meio fio e ficou só observando. Quando resolveu ir embora, disse a Divino: “Olha, essa segunda voz não deve nada ao Tião Carreiro. Como canta! Mal sabia ele que ali estava sua majestade, o rei do pagode.