Graziele Delgado e Evandro Valereto (Foto: Arquivo Pessoal/ A Cidade)
Olá, querido(a) leitor(a)! Certa vez, em um dos nossos atendimentos de consultoria, um dos nossos alunos, cujo filho tinha 13 anos, perguntou: “como ensinar o valor do dinheiro para meu filho sem que ele passe pela escassez?”. Essa é uma realidade bastante comum: pais que conquistaram uma boa qualidade de vida por meio de muito trabalho, conseguem dar acesso ao melhor para seus filhos e, em contrapartida, não conseguem mostrar o verdadeiro significado do que conquistaram e, muito menos, deixar um legado para esse “herdeiro”. Essa conversa nos chamou bastante a atenção e, por isso, este é o tema do nosso artigo da semana.
O primeiro ponto que precisamos destacar sobre o assunto é: dinheiro é um repertório comportamental. Isso significa que seus filhos estão aprendendo sobre ele desde os primeiros segundos de vida – tudo o que experienciam, ouvem, veem, percebem, está sendo registrado pelo cérebro como modelos e padrões de comportamento. Portanto, essa ideia de que uma criança já precisa saber ler e escrever, ou até fazer cálculos matemáticos, para entender sobre dinheiro, é completamente equivocada. Desde criancinha, ela já é capaz de aprender a fazer boas escolhas, desde o lanche que vai comer naquele dia, até a roupa que vai usar, etc.
Outra questão importante aqui são seus próprios comportamentos: parte significativa do repertório comportamental de uma criança ocorre por meio dos “neurônios espelho”, que vão copiar o que elas estão observando dia após dia. Uma criança jamais terá um perfil poupador ou entenderá a importância disso se, todas as vezes que sai de casa, ela vê seus próprios pais comprando alguma coisa. Portanto, pare para pensar sobre os hábitos de consumo da sua família hoje: o lazer está sempre ligado ao consumo? Quais são os comportamentos de compra mais frequentes? Você está sempre preocupado(a) em presentear seus filhos, mesmo que seja uma “besteirinha baratinha”? A questão aqui não é o preço do que ele(a) ganha, mas a “regra” que será formada em sua cabeça a partir deste comportamento: o padrão se torna “comprar toda vez que sair de casa”.
E em relação à mesada? É necessário tomar bastante cuidado: colocar dinheiro nas mãos de uma criança ou adolescentes com os estímulos errados por trazer o resultado contrário – ao invés de gerar responsabilidade e noção de valor, pode piorar ainda mais a ideia de que é obrigação dos pais comprar o que ela quer e gastar como se não houvesse amanhã. Dinheiro é sobre desenvolver responsabilidade. Para isso, precisa ficar claro para a criança o que será da responsabilidade dela daqui para frente: o lanche da escola? A saída com os amiguinhos? Quanto ela vai guardar para aquele desejo de consumo? O que acontece quando o dinheiro acaba: você dará mais? Mesada ou semanada sem combinados bem estabelecidos não são instrumentos de educação financeira, são apenas “presentes”.
E por falar em conquistas... a neurociência já provou: não fazemos absolutamente nada sem ter um por quê bem estabelecido. E este é o ponto principal desta conversa: seus filhos não precisam passar dificuldades ou viver na escassez para entender o valor do dinheiro. Mas ele precisa ser capaz de conquistar aquilo que deseja – passar pelo processo de juntar o dinheiro, ter que controlar seus impulsos para não gastar à toa, ter que esperar o tempo para comprar com um preço melhor, tentar fazer mais do que faz hoje para ganhar mais, se for do seu interesse. Sem o estímulo da conquista, não existe construção de um repertório comportamental saudável sobre o dinheiro.
Nós sabemos, é complexo. Mas você precisa entender que, neurologicamente, não controlamos comportamentos: eles são acionados pelo ambiente. Portanto, a questão é: o seu ambiente familiar tem proporcionado quais experiências de consumo para seus filhos? O contexto que você oferece está propício para criar responsabilidade, noção de dinheiro e a habilidade de conquistar? Fica a reflexão, querido(a) leitor(a). É verdade que criança não vem com manual, mas conhecer seu funcionamento básico vai te dar ferramentas para desenvolver aquilo que é o sonho de todo(a) pai/mãe: um adulto com autonomia, autoconfiança e feliz. Tenha uma excelente semana, querido(a) leitor(a).