Graziele Delgado e Evandro Valereto (Foto: Arquivo Pessoal/ A Cidade)
Olá, querido(a) leitor(a). Cuidado: este artigo tem gatilhos emocionais: quem nunca passou por essa “promessa” de que:
• Agora vai...
• Essa é a última vez!
• A partir de amanhã eu não faço mais assim...
Nós sabemos: você já perdeu as contas de quantas vezes se viu nessa situação: já tentou anotar gastos, fazer planilha, olhar a fatura do cartão com mais frequência...Existem também os casos mais graves, em que você já comprou curso online para resolver a situação (e sequer assistiu o curso até o final), contratou consultoria financeira, mas nada disso nunca resolveu de verdade. Você até consegue fazer o “certo” por um tempo, mas acaba voltando ao padrão do endividado(a). Neste semana queremos te dizer porque isso acontece e te dar alguns direcionamentos para resolver suas finanças de forma mais definitiva.
A primeira coisa que você precisa entender sobre tudo isso é sobre quais hábitos você já tem enraizados: sim, comprar além do que deveria é um comportamento que está presente no seu dia a dia, em muitos contextos e com significados diferentes. Entender esse padrão de consumo vai te ajudar a detectar os pontos fracos e conseguir agir sobre eles – quantos dias da semana você vai ao supermercado? Em qual horário isso acontece? Quais gastos estão escondidos na sua rotina? Você sempre compra algo a mais quando abastece seu carro? Você sempre passa na padaria depois de um dia estressante? Você usa seu tempo livre para olhar sites de compra? Você passa seus momentos de tédio em aplicativos de sites chineses? Você sempre compra algo para seus filhos, tentando suprir a ausência? Quais hábitos você tem?
Depois de entender os hábitos escondidos no seu dia a dia, é hora de aprofundar esse mapeamento, entendendo os contextos em que você compra: quais lugares são seus pontos fracos? Quem são as pessoas do seu círculo que te levam a gastar? Quem são os influenciadores que você segue? Quais emoções despertam a compra – um dia estressante? Um cliente difícil? Uma frustração com seu chefe? Seus cônjuge? Uma discussão com seus filhos? TODOS os nossos comportamentos são disparados frente a um contexto específico e nossas respostas mudam de acordo com esses ambientes. Talvez você esteja pensando agora: “eu consigo me segurar bem no supermercado, mas não cosigo me controlar naquele site específico”; ou “eu quase não compro roupas ou acessórios, mas não posso entrar naquela padaria”. Todos nós temos pontos fracos – contextos mais estimulantes que outros, gatilhos mais tentadores. Identificá-los é importantíssimo porque você poderá selecionar quais deles continuarão fazendo parte da sua rotina e quais ambientes precisarão mudar no dia a dia.
Por último, mas não menos importante: o quanto “comprar” é fácil para você? O cartão de crédito está sempre acessível? Você tem todos os cartões salvos na sua carteira digital do celular? Seus pagamentos são por aproximação? O cartão já fica salvo em aplicativos de comida ou compras aleatórias, basta dar um clique? Se você usa cartão de crédito, provavelmente esse tipo de compra é um hábito na sua vida – quando você percebe, já foi. O melhor caminho para frear esse comportamento é dificultar a compra – torna-la inacessível no seu dia a dia. Já pensou ter que digitar todos aqueles números do cartão em todas as vezes que quiser pedir uma comida? Ou ter que baixar o aplicativo tudo de novo todas as vezes que for passar o tempo em sites aleatórios? Ou, então, não estar com o cartão na bolsa bem naquela hora que passou na frente da vitrine da promoção? Quanto mais “difícil” for efetuar o pagamento, mais vezes você vai desistir, porque seres humanos são preguiçosos por natureza. O simples fato de dificultar a compra vai fazer com que a frequência de gastos diminua muito.
São muitas as razões porque consumimos e como isso faz parte do nosso dia a dia. Fechar os olhos para nossa irracionalidade e acreditar que basta saber o que precisa ser feito não é suficiente – não compramos por SABER que precisamos ter equilíbrio financeiro. Compramos por tédio, por prazer, por hábito, por compensações, por desejos aleatórios, pela influência de amigos e pessoas da internet, pelo nosso meio social, por pertencimento. E, acredite, anotar seus gastos em uma planilha é só uma parte muito pequena da solução: enquanto as raízes do seu consumo não forem escancaradas, enquanto você não aprender a tomar decisões melhores entendendo sua rotina, seus contextos e suas necessidades, pode morrer de fazer planilha – não vai adiantar.
Neste artigo te mostramos um pouco da aplicação de ciências comportamentais na prática: na maioria das vezes, não é sobre sermos racionais o tempo todo! É sobre moldarmos todo nosso contexto para que a compra – especialmente aquela desnecessária – tome um espaço cada vez menor e com menos peso na nossa rotina. Organizar nossas finanças é sobre mudar comportamentos profundamente enraizados, e isso não vai acontecer da noite para o dia. Como dizem por aí: é uma maratona, não uma corrida de cem metros. Mas, começa nas nossas pequenas decisões diárias. Tenha uma excelente semana, querido(a) leitor(a).