Graziele Delgado e Evandro Valereto (Foto: Arquivo Pessoal/ A Cidade)
Olá, querido(a) leitor(a). Na última semana nossa economia viveu uma grande emoção: a taxa básica de juros se manteve em um alto patamar – contrariando as expectativas de baixa do tal mercado financeiro – e uma guerra de narrativas se iniciou nas grandes mídias, o que provocou a alta do dólar. Alguns tentaram convencer as pessoas de que a decisão do Banco Central foi ruim e prejudica o país. Outros, colocaram panos quentes de que o Brasil apenas seguia o caminho que sempre seguiu e esses números não eram importantes. Para além de tudo isso, o conhecimento técnico: como essa alta do dólar pode afetar a SUA vida e a sociedade brasileira como um todo?
O primeiro ponto a se entender é que o valor de qualquer moeda depende da sua quantidade circulando no sistema: a lei de oferta e demanda. Quanto mais dólar inserido na economia brasileira, mais barato ele fica. Quanto menos dólar disponível, mais caro. E agora começa a compreensão que vai além do óbvio: o que influencia esse movimento de dólar no país? Existem duas pernas principais que baseiam essa quantidade: a balança comercial e os investimentos estrangeiros.
Do lado da balança comercial, temos exportação (vender produtos brasileiros para outros países) e importação (comprar produtos de outros países). Se essa balança fecha positiva – vendemos mais do que compramos -, há maior entrada de dólar no país: o preço cai. Se ela fecha negativa – compramos mais do que vendemos -, há mais saída de dólar do país e o preço sobe. Mas aqui existem pontos mais profundos de análise: para os produtos brasileiros serem mais exportados, precisam ter preços bem competitivos no mercado internacional e oferecer mais benefícios, o que não acontece no Brasil. As burocracias e regras para o comércio internacional são muito restritivas e isso enfraquece esse comércio, fazendo com que essa perna fique prejudicada.
Quanto aos investimentos estrangeiros, apenas no mês de junho tivemos a saída de mais de R$4 bilhões do mercado brasileiro, mas por que isso acontece? Imagine que seu vizinho começoua vender brigadeiros e você acreditou no projeto, financiando parte da produção. Só que seu vizinho é um péssimo gestor, e acabou se endividando e gastando muito mais do que conseguia pagar. Ao tentar conversar com seu vizinho e mostrar um caminho de solução, ele diz que você está errado e ele vai continuar gastando dinheiro sem nenhuma responsabilidade. Você deixaria seu dinheiro nas mãos do seu vizinho? Pois é: provavelmente, não. O Brasil é esse vizinho endividado: já está gastando muito mais do que consegue arrecadar, mas não fala em cortes de gastos e responsabilidade fiscal, o que gera um sentimento de desconfiança, fazendo com que investidores prefiram deixar seu dinheiro em lugares mais seguros ou que, pelo alto nível de risco, paguem mais juros.
E aqui vem o ponto mais importante de toda essa história: quase tudo o que consumimos faz parte de um grupo de produtos chamados de “commodities”, que são comercializados mundialmente e, portanto, tem sua base de preços em dólar. Se a moeda dispara, TUDO fica mais caro: o pão da padaria, o macarrão, a carne, o combustível. E, obviamente, isso cria uma relação em cadeia de preços – já que a maior parte da logística de todos os produtos do Brasil são feitos por caminhões. O resultado disso tudo? Mais inflação (que sentimos no aumento dos preços), que prejudica a vida de todas as pessoas do país (especialmente os mais pobres), pressionando mais ainda a taxa Selic – utilizada para conter inflação. Quanto mais alta a taxa Selic, mais estrangulados ficam os orçamentos do governo e das empresas, que precisam pagar juros de dívidas. E a economia toda vai ficando em frangalhos.
Por isso, caro(a) leitor(a), não se iluda: quem paga o preço de políticas econômicas erradas somos nós, que pagamos impostos. Se o governo decide cortar gastos para equilibrar essa conta, somos afetados pela precariedade dos serviços públicos (obviamente eles vão cortar do que vai para a população, e não das suas próprias regalias). Se o governo decide não cortar gastos, mas precisa arrecadar mais, nós pagamos mais impostos. Consegue perceber que essa bomba sempre cai no colo da população?
A verdade é uma só: estabilidade econômica depende de responsabilidade fiscal em qualquer âmbito da vida. Para ter equilíbrio financeiro, sua família precisa gastar menos do que ganha. Para crescer com segurança, uma empresa precisa gastar menos do que fatura. Para ser eficiente, municípios, estados e governo federal PRECISAM gastar menos do que arrecadam. Caso contrário, essa conta sempre vai cair no colo da população e quem sofre são sempre os mais frágeis. Cuidado com esse papo de que “economia não importa”. A realidade atual que vivemos é, justamente, uma eterna consequência de decisões econômicas ruins do passado. Entenda o funcionamento básico da economia para tomar melhores decisões para sua empresa, sua família e, principalmente, para não virar massa de manobra nas mãos erradas. Tenha uma excelente semana, querido(a) leitor(a).