Como faço há anos, fui neste final de semana prolongado rever amigos no Mercadão e, por coincidência, encontrei o meu cumpadi e advogado dos bons Edilberto Imbernom, morador de Mirassol. Vez ou outra, acompanhado da esposa Sandra, ele vai saborear pastel em Rio Preto. Entre tantos assuntos, ele me perguntou se eu conheci um personagem de sua cidade por apelido de Zé Piapara. Eu disse que não. Vem a ser avô da Valéria, mulher do Roberto Toledo, disse-me ele.
Entrei em contato com a neta do José Ferreira dos Santos, mais conhecido por Zé Piapara. Ela, com muito carinho, falou-me dos avós. Ele nasceu em Caitité, no sertão da Bahia. A avó, Maria do Carmo Louzada, é natural de Rio das Contas, vizinha à cidade do marido.
A neta se debulha em elogios ao falar do amado avô. Era corretor de profissão. Conhecia cada palmo da cidade. Morou próximo ao Educandário Nossa Senhora das Graças, toda uma vida. Tornou-se, aos poucos, uma pessoa muito conhecida. Foi amigo do doutor Anísio José Moreira, médico e político mirassolense. Deixou a medicina para tornar-se prefeito, deputado estadual e federal. E foi ele quem deu o apelido de Zé Piapara ao recém chegado baiano a Mirassol.
Segundo Valéria, o avô era uma pessoa muito sensível no trato com animais. Tinha por costume criar bichos no enorme quintal, onde tinha um bem cuidado pomar com frutas de todas as espécies e, num canto, bela horta para consumo próprio e ainda repartia com a vizinhança. E um cercado onde criava aves.
Nos finais de semana, seu prazer era pescar, daí o apelido. O rio São José dos Dourados era o destino preferido. Interessante que ele pescava, mas não comia peixes. Habilidoso no manejo da pescaria, nunca voltou de picuá vazio. Os vizinhos ficavam à espera das lindas piaparas pescadas por ele e que com muita satisfação oferecia aos amigos.
Às tardes, depois do serviço, ia ao bar São Pedro tomar aperitivos com colegas. Sua presença era aguardada pelos frequentadores. Não demorava e após dobrar a esquina, lá vinha um pelotão marchando garbosamente. Sob seu comando, e atentos às suas ordens, o galo de nome Carijó e mais sete galinhas no passo firme, em fila indiana, todas com nome femininos, e no diminutivo, Mariinha, Mariquinha, Joaninha, Rosinha e assim por diante.
Seu Zé Piapara e suas galinhas amestradas eram a sensação nas tardes mirassolenses. Enquanto ele tomava uma birita, os bichos ficavam na praça ciscando na grama do jardim. Antes de escurecer e as lâmpadas se acenderem, era a hora de irem embora. O “comandante” dava um assobio, o soldado e suas comandadas entravam em forma. Recebiam a voz de comando e seguiam em ordem unida e, na frente, todo pimpão, o galo Carijó. Claro, o evento chamava atenção de crianças e adultos, que não acreditavam no que viam: ordem unida do galo e das galinhas.
As lembranças deixam minha amiga Valéria com os olhos marejados e a voz embargada. Ela finaliza: “Nunca vi uma pessoa mais doce e sensível igual a meu avô Zé Piapara”.