A dualidade é uma característica intrínseca da existência humana. Mal e Bem, Sombra e Luz, são duas faces da mesma moeda. Estamos aqui, neste planeta, para experienciar ambos os lados, entender suas nuances e buscar o equilíbrio. Dentro de cada um de nós habitam essas polaridades e o nosso desafio primordial é mantê-las em harmonia, enquanto trilhamos o caminho entre esses extremos nessa "gangorra", oscilando entre os dois polos. No entanto, o conceito de certo e errado é uma convenção social, moldada por uma série de atitudes que, à primeira vista, parecem claras. Ser gentil, respeitar os mais velhos, seguir uma dieta balanceada, dormir oito horas por dia, lembrar dos aniversários, trabalhar, estudar, casar e ter filhos: tudo isso parece ser o roteiro ideal. Mas viver a vida vai muito além dessas normas preestabelecidas. Na realidade a vida é imprevisível. Ela nos apresenta capítulos que não podemos prever ou evitar. Todos nós enfrentamos turbulências em algum momento. Alguns lutam para colocar comida na mesa, enquanto outros buscam a alegria que falta em suas almas. Existem aqueles que lutam para sobreviver e, por outro lado, os que, apesar de abastados, mendigam por paz e felicidade. Assim, encontramos miseráveis que vivem em palácios e ricos que habitam favelas, uma ironia que revela a complexidade da existência. A vida é belíssima, mas não é simples. Em um momento, pode se assemelhar a um imenso jardim florido; em outro, transforma-se em um deserto árido ou uma montanha íngreme a ser escalada. Independentemente dos obstáculos, cada ser humano possui uma força incrível, muitas vezes desconhecida até por ele mesmo. No entanto, mesmo com essa força, a vida não se resume a teorias. Somos seres de matéria bruta, impulsos, fantasias e emoções. As regras sociais, por mais necessárias que sejam, muitas vezes falham em controlar o turbilhão que carregamos dentro de nós. Somos maduros, mas também crianças. Por trás do nosso autocontrole, muitas vezes, esconde-se um desespero silencioso. Somos criativos, inventamos músicas, amores e problemas. Nossa curiosidade nos leva a querer espiar pelo buraco da fechadura do mundo, tentando descobrir o que há do outro lado. Vivemos com uma montanha de sentimentos, uma solidão intrínseca, confusão, desassossego, saudades cortantes e uma necessidade incessante de afeto. E há também aqueles bilhetes guardados, as cartas antigas no fundo das gavetas, que contam uma versão de nós mesmos que talvez tenhamos medo de revelar. Há decisões não tomadas, mandamentos que não obedecemos. No final, a vida é uma mistura de certo, errado e tudo aquilo que nos dá medo, que nos atrai, que nos sufoca e que, de alguma forma, nos entorpece. Mas o que realmente importa? O que vale é a fome por ideias novas, o rosto que se transforma com o tempo, as cicatrizes que carregamos com orgulho, nossos erros e desilusões, a ausência de certezas, os silêncios que nos interrogam, a pureza e inocência que ainda existem dentro de nós, mas que poucos percebem porque crescemos. Continuamos com uma alma de criança, fingindo saber exatamente o que deve ser feito, mas, no fundo, entendemos muito pouco sobre as engrenagens do mundo. E é nesse equilíbrio precário, nessa gangorra emocional, que a vida acontece. Nossa missão, portanto, não é escolher um lado, mas aprender a dançar entre eles, encontrando o nosso próprio caminho em meio às contradições da existência.