Certa vez, fui ao Museu do Amanhã no Rio de Janeiro e a exposição em tela era o “pratododia”, evento que levantou um questionamento essencial para o futuro da humanidade: como alimentar uma população de 10 bilhões de pessoas com qualidade nutricional, diversidade de produção e sustentabilidade? Reflexão importante sobre possíveis soluções para um futuro próximo. Tudo girava em torno de “comida”. Mas, por falar em comida, hoje sou Assistente Social, mas já fui cozinheira sim, com prazer. Já dei até aulas de culinária, acreditem, se quiser. A gastronomia sempre esteve em alta. Nunca se valorizou, se estimulou tanto a produção de comidas como agora, de todos os jeitos, de todas as formas. Cada esquina um barzinho, um restaurante. E não param de inventar, de criar. Por toda a parte as pessoas querem comer, com prazer, é claro. Comida saudável e boa, bonita de ser apreciada desde a preservação de velhos hábitos, de receitas tradicionais, de métodos simples até as modernidades. Quanta gente que passa anos a fio cuidando da qualidade e quantidade do que chega às nossas mesas; gente que passa anos perseguindo sonhos com olhar brilhante e mãos ativas com a finalidade de transformar comida em obra de arte. Muitas vezes sozinhas e anônima, mas obstinada na tarefa de manter o mundo bem saciado. Uns nascem com esse dom, outros desenvolvem durante a vida e aprendem a gostar como profissão ou como diversão, por necessidade ou por opção. Não é interessante notar que nós humanos somos os únicos animais cozinheiros? Aquele que se interessa por comer melhor e mais gostoso? Podemos nos encontrar cara a cara com um bicho encurralado, preso, à nossa disposição. Mordemos o bicho assim ao natural? Não. Diferentes das galinhas que lá vivem a bicar seu milho sem maiores reclamações, dos bois que pastam o mesmo capim, dia após dia sem um tempero extra, uma mostarda, um salzinho. Tudo igual, entra dia e sai dia. Não é o nosso caso. Novidadeiros ao extremo, gostamos de nos ocupar com o assunto comida, cheiramos os produtos no mercado, enfiamos o nariz nos livros de receitas, deciframos os nomes das frutas raras em traduções incertas. Enfim, temos o dom de criar. Somente os humanos podem criar. Mas, voltando aos nossos bichos, ao vê-lo lá, indefeso, botamos a cabeça pra funcionar. Fazemos um projeto: matar o bicho e cozinhá-lo no vinho tinto e salvia, em panela grossa. Arregaçamos as mangas e vamos ao passo-a-passo. Arrancamos a pele com boa técnica. Como a retirar uma luva, separamos os membros, marinamos, refogamos, juntamos o resto de outros temperos, a língua estalando de expectativa. E de repente o projeto se realiza no prato ponto um instante rápido de prazer. É essa obra que quero destacar a capacidade humana de imaginar, de projetar de executar um plano, um plano no prato, um projeto para viver, construir uma felicidade como uma forma generosa de Cultura de proporcionar prazer. Afinal a comida tem muito de sagrado e disso vivem aqueles que passam o maior tempo das suas horas no lugar preferido da casa: na cozinha, é claro. Do prato mais simples ao requintado, das massas sovadas nas gamelas antigas às masseiras industriais, tudo construído é motivo de orgulho. Organizar cardápio, festas, eventos. Do típico cafezinho da manhã, café da tarde, aos jantares sofisticados cozinhar é a palavra que mais dá prazer.