Sou fanático por rádio. Em cada cômodo da casa tenho um radinho de pilha, sintonizado, infelizmente, em uma única estação. Houve um tempo em que Rio Preto tinha várias emissoras em AM. Hoje são apenas quatro, duas de cunho religioso, uma transmitindo diretamente de São Paulo, pouco ou quase nada falando de nossa cidade e região, e resta ainda outra, agonizando. Para mim, que cresci ouvindo rádio, é lamentável assistir esse triste fim.
Alguém vai dizer que os tempos são outros, que tudo muda e o rádio também mudou. Mudanças, sim, extinção, não! Mas, como diz o caboclo: o que não tem remédio remediado está. O que nos resta é lamentar, sabendo que os bons tempos não voltam.
Não há como escrever sobre o veículo sem que nossas lembranças voltem aos velhos tempos das antigas estações e seus antigos locutores. Havia concorrência acirrada entre as rádios, igual ao que vemos hoje nas TVs. Funcionários eram contratados a peso de ouro, tudo em nome da audiência, e quem ganhava com isso, claro, era o ouvinte, que se deliciava com programação envolvente, de qualidade e bom gosto.
Na madrugada rio-pretense entravam no ar as seguintes rádios: Piratininga, PRB 8, Difusora, Independência, Anchieta e Centro América.
A rádio com mais empatia com o publico era a Rio Preto PRB 8, carinhosamente chama de B8. Também conhecida por “Bambu rachado”, tal a precariedade de transmissão nos primeiros tempos. O alcance de suas ondas não ultrapassava de 600 a 800 metros em linha reta. Seu fundador foi o dentista Raul Silva e mais dois amigos, Fuad Chaim e Lauro Pietsch, em meados de 1934, segundo o livro do jornalista e radialista Paulo Serra Martins em “A História do Rádio” de São José do Rio Preto, THS Editora.
No início da incipiente rádio, havia apenas um programa cobrindo todo seu horário: “Às suas ordens”. O ouvinte escolhia a música. A emissora iniciava suas transmissões às 9h e interrompia às 14h, para esfriar os transmissores, retornando 2 horas depois e encerrando em definitivo às 19h30.
Grandes locutores e apresentadores tiveram na casa seu início, dentre eles, o jornalista e radialista Cesar Muanis.
A B8 ainda engatinhava quando o decano dos colunistas sociais, assim carinhosamente chamado pelos seus pares, nasceu, em Altair, em 26 de maio de 1937. A cidade ficou pequena para o caçula Cesar, que em 1954 vem para Rio Preto ao encontro dos irmãos Adib e Rubens, que trabalhavam como locutores na velha estação, e inicia, de imediato, como locutor comercial e apresentador de programas musicais. Em pouco tempo conquista o carinho dos dirigentes. Seu irmão Adib, que apresentava “Club da Cirandinha”, passou-lhe o comando. Foi o quanto bastou para o menino de Altair conquistar legião de fãs em Rio Preto e região. Ainda segundo Serra Martins, Cesar Muanis era do tipo galã de cinema. As mocinhas da época não se cansavam de enviar cartas apaixonadas ao belo apresentador.
Foi colunista social aqui, no “Diário da Região”, “Folha de Rio Preto”, “Diário de S. Paulo” e, por último, “D’Hoje”.
Além de radialista, jornalista e colunista social, Cesar teve papel marcante como apresentador de TV, tais como Record, Bandeirantes, Canal 16 – TV da Cidade.
Amante da música portenha, passou a integrar, em 1982, o grupo “Tangolero”, incentivado pelo seu fundador, Walter Benfatti, cantando belos tangos. O tempo passou, as rádios perderam seu encanto. Que vontade de ouvir novamente na B8 o “Club da Cirandinha” com o príncipe do rádio, Cesar Muanis.