Para explorar de fato a total capacidade de geração de valor de um negócio, é preciso entender e usar o conceito de cadeia produtiva de maneira profunda. Interessantemente, também, que essa forma integrada de pensar nos negócios pode criar um futuro sustentável.
Empresas que têm exercitado esse tipo de análise estão, sem dúvida, muito mais preparadas para enfrentar os riscos que estamos vivendo e vamos seguir enfrentando. Tornam-se mais resilientes. Pense no impacto das mudanças climáticas sobre as atividades econômicas em torno de um negócio. Organizações cuja liderança avalie este impacto sobre sua cadeia de fornecedores, por exemplo, ou sobre sua logística, tornam-se mais preparadas para adaptar seus negócios a essa nova realidade, com eventos climáticos extremos como seca e dilúvios.
O mesmo vale para identificação de oportunidades de geração de lucro e outros benefícios em toda a cadeia de valor. Empresas que entendem formas de incluir a cadeia de maneira integrada aos seus planejamentos e investimentos também colhem frutos disso. Pensem nas que exportam e precisam oferecer cada vez mais informações sobre as atividades sociais e impactos ambientais de toda a sua cadeia de produção. Quem se preparou tem diferencial competitivo relevante hoje.
Do ponto de vista da criação de um modelo de desenvolvimento sustentável, que só pode existir se apoiado por negócios que contribuam para a regeneração dos ecossistemas e para o fortalecimento dos tecidos sociais, o uso inteligente do conceito de cadeia de valor é chave. Por meio desse olhar amplo, é possível entender melhor os fatores que ajudarão a manter, regenerar ou melhorar os elementos sociais e ambientais dos quais as empresas dependem e, mais do que isso, agir positivamente sobre eles.
Por isso, é tão relevante o uso do conceito da cadeia de valor pelos líderes empresariais e reguladores quando o tema é aumentar a resiliência das nossas empresas – de todos os portes – e de nossa economia diante de cenários nos quais é preciso lidar com mudanças constantes. Não adiantará, nem do ponto de vista financeiro, nem do aspecto da criação ampla de valor, focar em apenas parte das redes que precisam funcionar para garantir que atividades de negócios continuem a custos gerenciáveis.
E a quem acredita que o foco em resultados financeiros como fomos ensinados a ter é só o que importa, vale lembrar que fatores como movimentos sociais, mudanças climáticas, saúde pública, grau de escolarização e segurança pública, dentre outras questões, podem causar grande impacto nos resultados de uma empresa. Quem não se lembra do impacto da pandemia?
Assim, gerar valor tem a ver com uma forma de entender a realidade à sua volta e agir sobre ela. Em termos práticos, por exemplo, se uma empresa utiliza água em abundância de uma certa região, gerar valor significa realizar ações para que não haja resíduos nos volumes devolvidos ao meio ambiente depois dos processos industriais. Mas, não é somente isso que é entender a interdependência do negócio com essa parte da cadeia de valor. Também cabe garantir que os ecossistemas na região – que oferecem esses serviços ambientais - sejam protegidos para que os recursos hídricos continuem disponíveis para a empresa e toda a sociedade.
Ou, ainda, se as operações localizam-se em uma região onde contratar pessoas é difícil, porque o nível de escolarização e formação profissional é baixo, gerar valor tem relação com a habilidade da empresa de apoiar ou acelerar as formas de educação disponíveis na área. Os benefícios decorrentes dessa iniciativa vão muito além dos negócios. Indivíduos com acesso a uma educação escolar de qualidade têm grande impacto no desenvolvimento de sua família, seu bairro, sua cidade e o País.
Podemos seguir com inúmeros exemplos. O importante é entender que a geração de valor na cadeia em torno dos negócios raramente acontece de modo isolado, como obra somente da empresa, ou como consequência da atuação de ator único, seja ele qual for, em determinada região. Colaboração e análise de interdependências têm um papel fundamental nesse jogo, principalmente quando a solução dos problemas envolve muitos públicos.
Assim, em todos os exemplos citados neste artigo, para gerar valor em níveis mais amplos, de modo consistente, a liderança precisa aproximar a empresa de instituições ambientais e sociais, agências governamentais, especialistas e líderes locais para juntos, construírem uma obra colaborativa, que resulta em maior resiliência para todos os envolvidos, no caminho de modelos de negócios que possamos chamar de sustentáveis. Afinal, o futuro de todos está em jogo.