Em entrevistas, ex-procurador-geral conta que planejou matar ministro do STF; "Tirei a minha pistola da cintura, engatilhei e fui para cima dele. Mas algo estranho aconteceu"
O ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot e o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, na cerimônia de abertura do ano judiciário de 2016 no Supremo Tribunal Federal (STF) Foto: Aílton de Freitas / Agência O Globo - 01/02/2016
BRASÍLIA — O ministro do Supremo Tribunal Federal ( STF ) Gilmar Mendes divulgou uma nota nesta sexta-feira sobre a revelação feita pelo ex-procurador-geral Rodrigo Janot de que um dia entrou na Corte armado com o objetivo de assassiná-lo . Mendes recomendou que Janot "procure ajuda psiquiátrica" e afirmou que o ex-procurador-geral "certamente não tem medo de assassinar reputações".
Revelação : 'Ia dar um tiro na cara dele (Gilmar) e depois me suicidaria', diz Janot
"Se a divergência com um ministro do Supremo o expôs a tais tentações tresloucadas, imagino como conduziu ações penais de pessoas que ministros do Supremo não eram. Afinal, certamente não tem medo de assassinar reputações quem confessa a intenção de assassinar um membro da Corte Constitucional do País. Recomendo que procure ajuda psiquiátrica", diz trecho da nota divulgada por Mendes.
O ministro diz que lamenta "o fato de que, por um bom tempo, uma parte do devido processo legal no país ficou refém de quem confessa ter impulsos homicidas". Afirma que ao falar em se suicidar após o assassinato Janot visava se livrar da pena e que este ato "seria motivado por oportunismo e covardia".
Mendes, um crítico da atuação de Janot e de vários pontos da Operação Lava-Jato, afirmou que continuará a apontar desvios em investigações.
"O combate à corrupção no Brasil — justo, necessário e urgente — tornou-se refém de fanáticos que nunca esconderam que também tinham um projeto de poder. Dentro do que é cabível a um ministro do STF, procurei evidenciar tais desvios. E continuarei a fazê-lo em defesa da Constituição e do devido processo legal", afirma.
O ministro se disse ainda surpreso com a revelação e alfinetou novamente Janot: "Sempre acreditei que, na relação profissional com tão notória figura, estava exposto, no máximo, a petições mal redigidas, em que a pobreza da língua concorria com a indigência da fundamentação técnica. Agora ele revela que eu corria também risco de morrer".A revelação de que planejou assassinar Mendes foi feita por Janot em entrevistas publicadas nesta quinta-feira pelos jornais “O Estado de S. Paulo”, “Folha de S.Paulo” e pela revista “Veja”. Sem citar o nome do ministro, a cena também é relatada no livro “Nada menos que tudo”, escrito com os jornalistas Jailton de Carvalho e Guilherme Evelin. A obra será lançada pela Editora Planeta.
"Tirei a minha pistola da cintura, engatilhei, mantive-a encostada à perna e fui para cima dele. Mas algo estranho aconteceu", relata o ex-procurador-geral.