Quase todo votuporanguense conhece Jorge Machado Marques, ou melhor, Caica ou Caic, como é chamado. O querido morador de rua e vendedor de bilhetes da loteria, hoje vive no lar dos idosos da cidade e conta que sente falta da rua, onde fazia amizade e trabalhava.
Porém, depois de ser surpreendido por dois homens que o agrediram, ele precisou se proteger e foi morar no Lar São Vicente de Paulo.
Caica nasceu em 22 de abril de 1932, no registro consta a cidade de Orindiúva-SP, mas ele diz ser do município de Paulo de Faria. Filho de Pedro Machado Marques e de Madalena Maria de Jesus, Caica lembra-se que tem uma irmã viva, Adair Machado Marques. Dos outros, não consegue falar o nome.
Ele conta ainda que teve um irmão que era pistoleiro e desapareceu. “Juntavam meia dúzia de homens e não seguravam o meu irmão”, diz.
No ano de 1944, Caica decidiu viver em Votuporanga, o endereço, as ruas da cidade. Não se casou nem teve filhos. Ele andava se apoiando em um carrinho de mão, hoje, usa uma cadeira de rodas para se equilibrar de pé.
“Trabalhei no café, na colheita e também carpindo café nos Fava. Também já recolhi recicláveis e vendi bilhetes de loteria”, lembra.
Da venda dos bilhetes, os moradores de Votuporanga dizem que Caica foi sorteado uma vez, versão que ele confirma. O que fez com o dinheiro? “Meus parentes que moram em São Paulo levaram. Só uma parte ficou comigo para eu comer”, fala.
No lar dos idosos, Caica repete incansavelmente que quer volta para a rua. “Estou aqui porque me atacaram. Ladrões me pegaram em frente a uma sorveteria da cidade”.
Todos do município que visitam algum parente no lar, aproveitam para bater um papo com Caica. A família também, às vezes, o procura por lá.
Passeio
No domingo, dia 7 de setembro, Caica foi surpreendido com uma novidade. Juliano de Souza Silva, o empresário Juliano Bombom, buscou-o para um passeio pela cidade. “Conheço o Caica desde a minha infância. Daquela época, lembro que as pessoas tinham medo dele, eu também, mas ele sempre foi uma pessoa boa. Tinha vários apelidos, a molecada atentava muito ele. Caica sempre trabalhou, nunca aceitou nada de ninguém e ainda comprava pão para algumas entidades assistenciais”, conta Juliano.
Durante o passeio, ele relatou alguns fatos históricos da cidade para Juliano, também falava nome de ruas e de praças.
“Quando passamos perto do posto do Vilar, Caica ria e chorava, porque se lembrou de quando morava lá. Foi muito bom vê-lo limpo e bem cuidado no lar dos idosos. Por outro lado é triste saber que ele foi feito para o mundo e está em um local fechado, mas é o que é mais seguro para ele. Caica é grato pela vida e feliz do jeito dele”, finalizou Juliano.
Desde que ficou sabendo que Caica está no lar, local onde vive desde 24 de maio do ano passado, Juliano já o visitou quatro vezes.
Visita no Lar
São Vicente de Paulo
A assistente social Elizangela Morelo Gonçalves explicou que a entidade fica aberta para visitação de terça e quinta-feira, sábado, domingo e feriado, das 14h às 16h30. “Receber visita é muito importante para as 53 pessoas que vivem aqui. Melhora o bem-estar, o relacionamento entre eles e a autoestima”, destacou Elizangela.
O Lar São Vicente de Paulo conta com uma equipe multiprofissional, preparada para o atendimento ao idoso. São assistente social, psicóloga, nutricionista, enfermeira e auxiliar de enfermagem. A principal fonte de recursos para sustentar o serviço é conquistada por meio de campanhas e eventos. Também há a ajuda dos moradores por meio de telemarketing e também do Fundo Municipal do Idoso.