Júri do caso foi nesta terça-feira (11) no Fórum de São José do Rio Preto (SP). Acusado vai para o regime fechado no presídio de Iaras (SP). Vítima ensinava agressor a ler e escrever.
Francisco Lopes Ferreira durante o júri nesta terça-feira (11) em Rio Preto — Foto: Renato Pavarino/G1
A irmã da missionária Simone Facini Lopes, morta a marretadas em 2017, em São José do Rio Preto (SP), disse ao G1 que a família está aliviada com a condenação de 36 anos em regime fechado do acusado Francisco Lopes Ferreira, de 65 anos.
O corpo da vítima foi encontrado seminu no dia 12 de março de 2017 em uma chácara do município. A missionária foi morta a marretadas e chegou a ser amarrada a uma cama.
“Estamos felizes por ele não sair impune e por pagar pelo crime bárbaro, mas não pela situação. Nós queríamos ter a Simone de volta. Como a própria juíza disse, existem coisas que não conseguimos entender, não tem explicação”, afirma Ana Célia Moura Facini de Ávila, de 31 anos.
O júri popular foi realizado nesta terça-feira (11) e durou cerca de 4h. Francisco detalhou como cometeu o crime durante depoimento e alegou que 'estava com a cabeça doida'.
A irmã da vítima acompanhou todo o júri popular e se emocionou durante o processo. Ela afirma que a pena poderia ter sido maior do que a aplicada.
“Acredito que a pena poderia ser até maior para ele nunca mais voltar a fazer o que fez com outra pessoa, mas está ótimo. Prefiro ele na cadeia do que ele solto pela rua”, conta.
O julgamento começou por volta das 13h30 e terminou 17h30. A primeira testemunha a ser ouvida pela juíza Gláucia Vespoli foi o web designer César Augusto Lopes, marido da vítima.
Durante depoimento, ele contou que era casado com a Simone há 12 anos e que uma amiga da família teria apresentado Francisco para ela. Então, ela passou a ajudá-lo de diversas formas, inclusive, comprando uma dentadura e fazendo aniversário para ele.
“Com o tempo acabou sendo amigo. Há seis meses ela ia na hora do almoço, deixava comida para ele. Depois ia ler trechos da bíblia. Ela fazia outros trabalhos na igreja. Era solicita, ajudava todo mundo”, disse.
“A Simone não tinha maldade, não enxergava o mundo como enxergamos. Era muito apegada a família, boa mãe, trabalhava muito. Uma mulher que Deus colocou na minha vida”, completa.
César Augusto Lopes também afirmou que, no dia do crime, achou estranho Simone demorar tanto para chegar em casa, mas que era uma atitude considerada normal porque ela era muito independente.
“Eu fui na chácara com meu filho e um amigo dele. Não encontramos nada. Então, eu fui na minha sogra que começou a gritar dizendo que a tinham matado. Depois, eu fui na igreja e me disseram que ela não estava lá também. Eu voltei na chácara e encontrei o caseiro que me disse que ela estava morta”, contou.Depois do ex-marido prestar depoimento, foi a vez do acusado Francisco Lopes Ferreira a dar sua versão dos fatos.
Ao responder as perguntas feitas pela juíza e pelo promotor, ele deu detalhes sobre como cometeu o crime.
“Eu peguei a marreta e bati na cabeça dela no quarto. Ela estava na cadeira assistindo televisão. Dei três marretadas nela. Depois da primeira marretada, não disse mais nada. Eu acorrentei ela na cama. Eu estava com a cabeça doida. Pensei que ela não tivesse morrido”, afirma.
O réu contou também que conhecia Simone há três anos e disse que ela ia na chácara onde ele morava para passear e ajudá-lo, como lavar a roupa e levar comida. Simone também ensinava Francisco a ler e a escrever.
“No domingo (dia do crime), estávamos conversando e ela falou que não ia vir mais e acabou acontecendo isso. Simplesmente ela falou que não ia mais. Eu tive um problema na minha cabeça e acabou acontecendo isso”, afirmou no depoimento.Francisco Lopes Ferreira foi condenado a 36 anos de prisão pela morte da missionária Simone Facini Lopes, de 31 anos.
A juíza Gláucia Vespoli, o condenou a 27 anos de prisão por homicídio qualificado e nove anos por estupro.
O promotor Marco Antonio Lelis Moreira se diz satisfeito com a sentença dada e não pretende recorrer.
Depois de ser condenado, Francisco Lopes Ferreira, que já tinha cumprido pena por estuprar duas crianças na década de 90, voltou para a penitenciária de Iaras (SP), onde permanecerá à disposição da Justiça.
Relembre o caso
A vítima frequentava a chácara, onde foi encontrada morta e acorrentada na cama, há cerca de seis meses. Segundo a família, Simone ensinava o homem a ler e a escrever. No domingo (12), dia em que foi morta, daria aula de ensino religioso para ele.
A voluntária saiu de casa por volta das 11h e, no final da tarde, ainda não tinha voltado. A família ficou preocupada, mas quando o marido foi até a chácara o crime já tinha acontecido.
Simone estava seminua e foi presa com correntes que prendiam pés e mãos, todas fechadas com cadeados. A vítima tinha ferimentos graves na cabeça. Uma marreta com marcas de sangue, usada no crime, foi apreendida.Segundo a polícia, Juvenal Pereira dos Santos, que morava na mesma chácara que o acusado, foi quem chegou primeiro na cena do crime e chamou a polícia. Ele entregou aos investigadores a marreta.
Juvenal foi preso suspeito de ter participado do crime, mas foi solto após ficar comprovado que ele não estava presente no dia do assassinato. Ele apresentou um álibi que foi confirmado pela polícia.
Ainda segundo a polícia, oito dias depois, Francisco foi preso saindo de uma mata da região.
Por estar debilitado, ele precisou ser levado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA), do bairro Tangará e transferido para o Hospital de Base.
Na época, o delegado Alceu Lima de Oliveira Junior e os investigadores do caso foram até a unidade hospitalar. Apesar de ter negado o crime para a Polícia Militar durante a prisão, o acusado confessou à Polícia Civil que matou Simone de Moura Lopes.