Rio Preto também é a 18ª cidade com maior número de casos confirmados de infecção por coronavírus, dentre as maiores do País, proporcionalmente à população
Rio Preto registrou 308 óbitos por Covid-19 a cada cem mil moradores (Foto: Reprodução/G1)
Proporcionalmente ao número de habitantes, Rio Preto é a quarta cidade entre as maiores do País (com mais de cem mil moradores) com mais mortes provocadas pela Covid-19. São 308 óbitos a cada cem mil moradores. A primeira é Manaus (AM), que assistiu ao sistema de saúde colapsar completamente, com pessoas morrendo à espera de leitos, e com falta de oxigênio para os pacientes, além de ter sido o celeiro de uma das variantes que circulam hoje em Rio Preto e região, a chamada P1.
No início de março, Rio Preto era a quinta cidade com maior número de mortes proporcionalmente. Agora, está atrás apenas de Manaus, Porto Velho (RO) e Cuiabá (Mato Grosso). O levantamento foi feito com base em dados do Ministério da Saúde.
Rio Preto chegou na segunda-feira (29) a 1.435 óbitos provocados pela Covid-19, com mais 47 ocorrências confirmadas entre sexta-feira e domingo. Março já é o mês com mais mortes pela infecção. São 300 vidas perdidas, mais do que a soma de janeiro (136) e fevereiro (77).
Rio Preto também é a 18ª cidade com maior número de casos confirmados de infecção por coronavírus, dentre as maiores do País, proporcionalmente à população. São 12.509 ocorrências positivas para cada grupo de cem mil habitantes. Na cidade, foram testadas 186.114 pessoas, o que corresponde a 88% das 211.427 que procuraram os serviços de saúde com sintomas.
Flávio da Fonseca, presidente da Sociedade Brasileira de Virologia e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), acredita que esse é um percentual alto de testagem. "A questão de Rio Preto estar testando muito pode revelar números maiores sem que isso represente realmente um número superior em relação a outras capitais, outras cidades que não testam tanto", afirma.
Outro ponto que ele destaca é a falta de adesão da população às medidas de segurança. "Rio Preto segue uma tendência global, nacional. É público e notório que a população brasileira de uma forma geral não aderiu às recomendações de distanciamento social, de evitar as aglomerações, do uso de máscara em público ou até ficar em casa quando é possível. Ações não farmacológicas para diminuir a circulação do vírus", explica Fonseca. Nem no domingo (28) Rio Preto atingiu o preconizado de isolamento social, que é acima de 60% das pessoas em casa.
"A população brasileira jamais aderiu. Toda vez que a gente teve feriados, como final do ano, Carnaval, o que se viu foram cenas de aglomeração intensa. São parcialmente responsáveis pelo número de casos e óbitos que a gente está acompanhando atualmente. Rio Preto se encaixa nesse tipo de perfil, que de uma forma geral a população brasileira traz", considera o virologista.
Para Fonseca, outro fator complicador é a temperatura de Rio Preto, que é muito elevada, o que propicia o encontro de pessoas para se refrescar. "Muitas vezes, é difícil ficar em casa num ambiente muito quente, principalmente a população de mais baixa renda, e isso também pode complicar. É uma característica climática de Rio Preto."
Outro fator apontado pelo presidente da Sociedade Brasileira de Virologia é o fato de que Rio Preto recebe muitas pessoas de fora que buscam aqui serviços de saúde, o que pode impactar nos índices positivos de Covid. Na semana passada, o assessor da Secretaria de Saúde, André Baitello, já havia confirmado que muitas pessoas vêm para cá para se consultar, e que não há o que ser feito sobre isso nem ter controle sobre quantos indivíduos são, já que para ser atendido no município basta apresentar qualquer comprovante de residência.
Em nota, a Secretaria de Saúde disse que as mortes por Covid só podem ser confirmadas com exames com resultados positivos. "(A cidade) Tem uma das maiores taxas do País em testagem. Apesar de os números estarem elevados, Rio Preto tem uma das melhores estruturas hospitalares do País, além da abertura de mais de 220 leitos novos (ao longo da pandemia)", afirmou o município em nota.
Rio Preto é a primeira do Estado em proporção de número de casos entre as maiores cidades. "Acreditamos que a posição de primeiro colocado em número de casos está intimamente ligado ao número de testagem, o que por sua vez está ligado ao número de constatação de Covid e de óbitos," afirmou a Saúde.
Ainda conforme a Secretaria de Saúde, a doença provocada pelo coronavírus é nova, cuja transmissibilidade, gravidade e resposta individual ainda é uma incógnita. "Rio Preto tomou decisões baseadas em experiências científicas comprovadas, tanto no distanciamento como no tratamento. Não se inventou nada", garantiu o poder público.
A Saúde citou ainda a atuação da população durante a pandemia. "Parte da população aderiu às recomendações, utilizando máscaras e mantendo distanciamento social. Infelizmente, outra parte não aderiu, colocando em risco sua própria vida e a de outras pessoas", finalizou em nota.
Variantes na região
Rio Preto, Bady Bassitt, Guapiaçu, Ibirá, Jaci, José Bonifácio, Mirassol e Olímpia. Essas são as cidades onde comprovadamente existe pelo menos uma variante brasileira do coronavírus - de Manaus ou do Rio de Janeiro -, conforme material publicado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações. Em Rio Preto, a variante de Manaus (P1) já circulava desde janeiro; nas outras cidades, o predomínio é da mutação do Rio de Janeiro (P2).
O grupo que fez o sequenciamento genético é o formado por Famerp, Ibilce, Instituto de Biotecnologia (IBTEC), Instituto de Biociências da Unesp de Botucatu e Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP Pirassununga (FZEA), que compõem a Rede Corona-ÔmicaBR-MCTI.
Nesta semana, a Famerp passará a contar com a Plataforma de Sequenciamento de Nova Geração, que chegou nesta semana, e pode acelerar o processo de decodificação do vírus. O equipamento teve custo de R$750 mil.
Cidades com mais mortes causadas por Covid por cem mil habitantes (entre municípios com mais cem mil moradores):
1- Manaus (AM): 385 mortes;
2- Porto Velho (RO): 337 mortes;
3- Cuiabá (MT): 325 mortes;
4- Rio Preto: 308 mortes;
5- Rio de Janeiro: 299 mortes;
Cidades com mais casos de Covid por cem mil habitantes (entre municípios com mais cem mil moradores):
1- Parauapebas (PA): 17.730 casos;
2- Santana (AP): 17.553 casos;
3- Boa Vista (RR): 16.870 casos;
4- Tubarão (SC): 15.807 casos;
5- Brusque (SC): 14.795 casos;
6- Balneário Camboriú (SC): 14.589 casos;
7- Ariquemes (RO): 14.400 casos;
8- Chapecó (SC): 14.113 casos;
9- Palhoça (SC): 13.945 casos;
10- Florianópolis (SC): 13.706 casos;
11- Colatina (ES): 13.589 casos;
12- Araguaína (TO): 13.224 casos;
13- Aracaju (SE): 13.104 casos;
14- Joinville (SC): 13.032 casos;
15- Itabuna (BA): 12.635 casos;
16- Foz do Iguaçu (PR): 12.611 casos;
17- Criciúma (SC): 12.529 casos;
18- Rio Preto: 12.509 casos;
(Fonte: Ministério da Saúde)
*Com informações do Diário da Região