Número de concorrentes de um dos cursos em que a estudante passou é quase seis vezes maior que a população de Macedônia
Para muitos, a pandemia da Covid-19 acabou sendo uma dificuldade durante a realização de planos, porém, para Beatriz virou uma oportunidade (Foto: Arquivo pessoal)
Uma jovem de 19 anos, moradora de Macedônia, cidade com pouco mais de três mil habitantes, conseguiu o feito de passar em três faculdades de medicina mesmo estudando por conta própria.
Para se ter ideia, o número de concorrentes do curso de medicina da Unesp de Botucatu, uma das opções em que ela passou, foi de mais de 23 mil estudantes, quase seis vezes o número de habitantes da cidade onde a nova universitária foi criada. São 261 candidatos por vaga.
Além da Unesp, Beatriz Brigatti conseguiu passar nos cursos de medicina da USP de Ribeirão Preto e na UFMS (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul) de Campo Grande.
Porém, quem pensa que as oportunidades na vida da estudante vieram de forma fácil acaba se enganando. Ao g1, a filha única de pai motorista e mãe autônoma contou que sempre estudou em escola pública.
"No último ano, eu me matriculei em um cursinho particular, porém, em um mês acabei saindo, porque não gostei e o preço era puxado. Assim, fiquei um ano estudando sozinha em casa", contou Beatriz.
Uma das principais dificuldades relatadas por ela é a questão do tamanho da cidade, principalmente pela falta de incentivo que existe para esses tipos de municípios.
"Macedônia é uma cidade muito pequena, então, até em questão de oportunidades, não tem muito acesso. Alguns amigos nem prestaram vestibular, porque não existe um incentivo nesse ponto", reclama.
Estudos na pandemia
Para muitos, a pandemia da Covid-19 acabou sendo uma dificuldade durante a realização de planos, porém, para Beatriz virou uma oportunidade. Com o tempo "de sobra" em casa, ela conseguiu intensificar os estudos.
Apesar de ter feito o ensino fundamental em sua cidade, a estudante cursou o ensino médio na Etec (Escola Técnica) de Fernandópolis, cidade que fica a 18 quilômetros de Macedônia. Com a chegada da pandemia e o consequente isolamento social, o deslocamento não precisou ser mais necessário, o que acabou ajudando.
"De certa forma, a escola pública às vezes não é tão focada para o vestibular. Com a pandemia, eu consegui dar prioridade para o mais importante, e acabou sobrando mais tempo para focar no que precisava para conseguir ir bem nas provas."
Beatriz explicou como conseguiu se organizar sozinha para conseguir juntar o foco com a capacidade de aplicação.
"Eu fazia um cronograma semanal, com as matérias de humanas e exatas pela manhã e, mais tarde, as teóricas, além dos exercícios. Eu pegava provas antigas na internet e fazia como se fosse um simulado pelo computador mesmo ou de forma impressa", relata.
Sonho de medicina
A estudante também contou que tem o sonho de fazer o curso de medicina desde pequena, principalmente pelo amor que tem pelas crianças.
"Nunca me vi fazendo outra coisa. Queria desde o começo a pediatria, porque eu gosto muito de criança. Eu gosto de conhecer as pessoas e poder ajudar também."
O maior motivo de orgulho para Beatriz foi ter vencido todas essas dificuldades, principalmente por ser um curso tão concorrido, no qual muitas das vagas são ocupadas por pessoas que têm mais acesso.
"Já sou muito orgulhosa da minha cidade, e conseguir uma vaga em um curso menos democrático, principalmente porque sou de uma família muito humilde, me deixou ainda mais feliz", completou a estudante.
Beatriz ainda não decidiu em qual das três faculdades vai se matricular, mas uma coisa é certa: representar a cidade natal ela já conseguiu.
"Não tem explicação. É só orgulho de ter uma filha maravilhosa e que lutou muito", completou Maria Brigatti, mãe da estudante.
*Com informações do site
g1