Só no primeiro trimestre deste ano foram registrados 5.737 casos de violência em escolas da rede estadual, número 45% maior que o apurado em igual período de 2019, antes da pandemia
No primeiro trimestre deste ano, foram contabilizados 5.737 casos de violência nas unidades de ensino da rede (Imagem: Reprodução/redes sociais)
Cresceu o número de casos de violência nas escolas da região de Rio Preto. Dados da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo apontam que somente no primeiro trimestre deste ano, foram contabilizados 5.737 casos de violência nas unidades de ensino da rede. Em contrapartida, no primeiro trimestre de 2019, antes da pandemia, foram 3.937 registros. Um aumento de 45%.
Os dados são da Placon (Plataforma Conviva) – sistema onde são registradas as ocorrências escolares – como agressão física, ameaça, bullying, discriminação e ação violenta de grupos/gangues.
Entre os casos da região de Rio Preto, estão o de uma menina de dez anos que quebrou os dentes depois de levar uma “rasteira” dentro de um colégio particular de Rio Preto; uma discussão que terminou com um aluno agredido a cadeiradas em uma escola estadual na Vila São Jorge; um pai de aluno que foi preso após invadir uma escola de Novo Horizonte com duas machadinhas “ninja” para ameaçar estudantes que brigaram com seu filho. E a agressão a pauladas de adolescentes contra o pai de um aluno de Jales.
Especialistas em educação apontam o isolamento social e o agravamento de problemas dentro de casa como principais fatores para a maior agressividade. “Esses estudantes ficaram praticamente dois anos afastados do ambiente escolar. E o ambiente escolar é onde vão aprender a ter relações de respeito mútuo e a conviver com o outro”, apontou Luciana Nogueira da Cruz, pesquisadora da área de psicologia e educação moral do Ibilce, campus rio-pretense da Unesp.
Um estudo realizado no ano passado pelo Instituto Ayrton Senna, em parceria com a Secretaria de Educação, nas escolas estaduais de São Paulo mostrou que 60% dos estudantes relatam ter sentido piora na tolerância ao estresse. Ou seja, estão mais propensos a desenvolverem quadro de agressividade como reflexo do isolamento social.
Para Luciana, além da pandemia, a escalada das dificuldades financeiras das famílias brasileiras e o consequente aumento da violência fora da escola também podem estar por trás dos números. “A situação econômica que o Brasil se encontra reflete nessa violência. Quanto maior a desigualdade, maior o número de casos. E isso reflete nas escolas. Sem contar que culturalmente tem sido muito incentivado o uso de armas no Brasil. Isso passa uma mensagem para os jovens de complacência e autorização da violência.”
Ações de prevenção e acolhimento
Como forma de combater o aumento da violência dentro das escolas, especialistas defendem programas de prevenção e acolhimento psicológico aos estudantes. Isso porque, segundo pesquisadores, no Brasil existe mais a cultura de apagar o incêndio no momento que ele acontece do que incentivar programas de prevenção. “Na verdade, a maioria dos casos não são de violência, mas de conflitos, que ao chegar no limite viram casos de agressão”, explica Luciana Nogueira da Cruz, pesquisadora da área de psicologia e educação moral da Unesp.
Para ela, é necessário uma política educacional de convivência e paz nas escolas da região, assim como ocorre em instituições de ensino de outros países, como Espanha. “O adolescente não vai aprender a respeitar se não for respeitado. A gente tem que mudar o ambiente que eles vivem.”
Em Rio Preto, a Vara da Infância e Juventude de Rio Preto instalou há dois anos um programa específico com objetivo de melhorar a triagem dos casos infracionais e evitar que adolescentes voltem a cometer atos infracionais.
“Separamos os casos primários, de adolescentes que ainda estão nos primeiros atos infracionais, e os encaminhamos ao trabalho, programas de manejo de raiva, conversando com as famílias e evitando a evolução infracional. Mas creio que enquanto todos nós, como um todo, não priorizarmos a educação e não levantarmos um movimento comum e geral nesse sentido, continuaremos a, infelizmente, amargar tristes dados infracionais”, afirma o juiz Evandro Pelarin.
Outro projeto que também busca reduzir o número de ocorrências é o Vizinhança Solidária Escolar, implantado pela PM em Rio Preto. O programa é inspirado no Vigilância Solidária, quando os moradores ajudam a vigiar a própria casa e a dos vizinhos, trocando informações por meio de grupos de WhatsApp e avisando a polícia quando veem algo suspeito. No caso das escolas, pais, diretores e até vizinhos das instituições de ensino participam e podem denunciar os casos à polícia.
Uso de medidas socioeducativas
O juiz da Vara da Infância e Juventude de Rio Preto, Evandro Pelarin, lembra que o ECA (Estatuto da Criança e Adolescente) prevê medidas socioeducativas como resposta ao ato infracional praticado por adolescentes. “As medidas socioeducativas vão de simples advertência até internação, que é a restrição da liberdade a no máximo três anos”.
Questionada sobre o aumento da violência nas escolas, a Seduc (Secretaria da Educação do Estado de São Paulo) disse, por meio de nota, que repudia qualquer forma de agressão e quando há qualquer tipo de intercorrência, a direção da unidade entra em contato com os responsáveis pelos estudantes envolvidos para fins de mediação, tomando as providências restaurativas que preservem o direito à educação.
“A pasta conta com o Programa de Melhoria da Convivência e Proteção Escolar (Conviva SP) composto por projetos e ações articuladas entre Convivência e Colaboração; Articulação Pedagógica e Psicossocial; Proteção e Saúde e Segurança Escolar. Todos os casos são registrados na Plataforma Conviva. Há também a disponibilização de atendimento com profissionais através do Psicólogos na Educação, tanto para servidores e estudantes, mediante autorização dos responsáveis”, informou.
*Com informações do jornal Diário da Região