Depois de um período de férias, a atriz interpreta uma personagem que bem poderia ser real
Como acontece todo final de ano, a Globo mais uma vez preparou alguns especiais, os quais serão exibidos até o final deste mês. Um deles é o “Doce de Mãe”, previsto para ser mostrado no dia 27, logo depois da novela “Salve, Jorge”, tendo como protagonista a atriz Fernanda Montenegro, acompanhada de outros nomes que fazem o sucesso da teledramaturgia global.
“Doce de Mãe” tem a direção de Jorge Furtado e Ana Luiza Azevedo; “É um presente de fim de ano e de Natal. É uma história de família e para a família. Fala sobre o aprendizado que podemos ter ao ouvir os mais velhos", define Jorge Furtado.
O especial conta a história de Dona Picucha (Fernanda Montenegro). Uma senhora, com seus 80 e poucos anos, que tem uma alma jovem e aproveita o melhor da vida. "A personagem é uma mãe e avó de boa alma que contorna os problemas da vida e ensina a quem a rodeia. Eu fico muito feliz em extravasar esse meu lado comediante. Fico violentamente feliz de ter participado desse projeto", diz Fernanda Montenegro.
Na trama, Picucha já vivenciou altos e baixos para criar os quatro filhos, se tornou avó, ficou viúva e, há 27 anos, mora com Zaida (Mirna Spritzer), amiga, confidente, empregada, companhia, um anjo da guarda com quem divide tudo. "Quando a gente pega um papel como esse, a nossa memória emotiva particular vem toda para compô-lo. Me agrada muito ter tido a oportunidade de fazer algo tão perto do coração da gente. E esse nosso especial traz essa realidade", complementa Fernanda Montenegro.
Em um jantar especial com seus filhos, Picucha anuncia que Zaida vai se casar e se mudará de cidade. E agora, como os filhos vão lidar com essa situação? "O problema retratado é muito real, é muito rico como dramaturgia porque é uma história que todos nós nos deparamos de ambos os lados, seja como filhos ou pais. Por isso eu acho que terá uma empatia muito grande com o público", diz Ana Luiza Azevedo. Silvio (Marco Ricca), Elaine (Louise Cardoso), Suzana (Mariana Lima) e Fernando (Matheus Nachtergaele) tentam uma nova empregada e até um rodízio, mas o que dona Picucha quer mesmo é a liberdade de morar sozinha.
Como se vê, o tema retratado é a realidade de inúmeras famílias e promete agradar. Se depender do desempenho do elenco, o sucesso está garantido.
Saindo da ficção, a atriz Fernanda Montenegro dispensa muitas apresentações. Sem dúvida, um dos maiores talentos brasileiros.
Ela nasceu em 1929, na cidade do Rio de Janeiro, numa casa de portugueses e italianos e foi batizada com o nome de Arlette Pinheiro Esteves da Silva.
Ela enveredou-se no meio artístico aos 15 anos de idade quando participou de um concurso da Rádio MEC que selecionou redatores, locutores e atores de rádio.
A estreia no teatro foi em 1950, na peça “3.200 Metros de Altitude”, ao lado de Fernando Torres.
A história desta “grande dama do teatro” é extensa e digna de nota. Ela foi a primeira atriz contratada da TV Tupi do Rio de Janeiro e ficou na emissora entre 1951 e 1953, participando de cerca de 80 peças.
No ano de 1952 ganhou o prêmio de Melhor Atriz Revelação da Associação Brasileira dos Críticos Teatrais por seu trabalho em dois espetáculos. Nesta mesma época fez parte da Companhia Maria Della Costa e do Teatro Brasileiro de Comédia.
Ao lado do marido, Fernando Torres, montou a Companhia dos Sete congregando na época os atores Sérgio Britto, Ítalo Rossi, Giani Ratto, Luciana Petruccelli e Alfredo Souto. Desde então, recebeu vários outros prêmios por seu trabalho. No ano de 1970 afastou-se da televisão durante nove anos. A sua volta deu-se em 1979 quando participou de “Cara a Cara”, novela de Vicente Sesso exibida pela TV Bandeirantes.
A sua estreia na Globo foi em 1981 em “Baila Comigo” interpretando Sílvia Toledo Fernandes e logo depois apareceu em “Brilhante” na pele da milionária Chica Newman.
Inesquecíveis mesmo são suas cenas ao lado do saudoso Paulo Autran, na primeira versão de “Guerra dos Sexos”, também de Sílvio de Abreu, na qual eles viveram os primos Charlô e Otávio. No ano de 1986, em “Cambalacho”, novamente numa história de Abreu, ela protagonizou situações hilárias na pele de Naná, ao lado de Gegê, personagem do também grandioso Gianfrancesco Guarnieri.
Os personagens marcantes são inúmeros. Tem a Vó Manuela, de “Riacho Doce”; Salomé, em “A Rainha da Sucata”; Olga Portella, em “O Dono do Mundo”; Jacutinga, na primeira fase de “Renascer”; Madalena Moraes, em “O Mapa da Mina”; Quitéria Campolargo, no memorável “Incidente em Antares”; Zazá, personagem título da novela; Nossa Senhora, no “O Auto da Compadecida”; Lulu de Luxemburgo, em “As Filhas da Mãe”; a italiana Luiza, em “Esperança”; a Madrasta e Dona Cabeça, em “Hoje É Dia de Maria”; a ardilosa Bia Falcão, em “Belíssima”; Iraci, em “Queridos Amigos” e Bete Gouveia, em “Passione”.
O reconhecimento também veio através do convite feito pelo então Presidente José Sarney que gostaria de ter Fernanda Montenegro como Ministra da Cultura, mas atriz recusou. No ano de 1999 foi condecorada com a maior comenda – a Ordem Nacional do Mérito Gran Cruz.
A atriz tem seu nome ligado ao cinema brasileiro e em 2004 recebeu o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Tribeca, em Nova Iorque. Entre suas atuações no cinema nacional, destacam-se “A Falecida” (1964) e “Eles Não Usam Black-Tie” (1980), ambos de Leon Hirszman; “Olga”, de Jayme Monjardim, no qual interpretou Leocádia Prestes, mãe do líder comunista Luís Carlos Prestes; ”Redentor” (2004), dirigido por seu filho, Cláudio Torres; “Casa de Areia” (2005), filme dirigido pelo genro Andrucha Waddington, e “O Amor nos Tempos do Cólera” (Love in The Time of Cholera), de Mike Newell, lançado em 2007, no qual fez a personagem Tránsito Ariza, mãe do personagem do ator espanhol Javier Bardem. O sua atuação mais recente no cinema brasileiro foi como narradora no filme “As Aventuras de Agamenon, o Repórter”.
E vale lembrar ainda o “Central do Brasil”, de Walter Salles que foi indicado ao Oscar por sua atuação. A atriz ganhou o prêmio Urso de Prata no Festival de Cinema de Berlim por este trabalho.
Fernanda Montenegro casou-se com o também ator Fernando Torres em 1953 e eles tiveram dois filhos, a atriz Fernanda Torres e o cineasta Cláudio Torres. O marido da atriz morreu em 2008.
Apesar da fama, a família de Fernanda Montenegro sempre foi muito discreta e não é dada a badalações.