Lélio Braga Calhau é Promotor de Justiça de defesa do consumidor do Ministério Público de Minas Gerais
Com o dinheiro cada vez mais curto, os consumidores começam a elaborar “estratégias de guerrilha” para sobreviver a estes tempos cada vez mais difíceis. Como sempre, as melhores estratégias são as mais simples, e essa simplicidade, traz a facilidade de conseguir se utilizar das táticas com maior disciplina, ao longo do tempo.
Conversando um dia desses com uma jornalista amiga, ela resumiu a sua preocupação com a frase “evitar cartão de crédito é lei”. O momento, a meu ver, tornou-se o mais propício para se lançar mão desta estratégia de consumo.
O cartão de crédito, se bem usado, tem o poder de organizar diversos gastos ao longo de um mês em uma data certa. Quando a pessoa tem uma fonte de renda e ela a utiliza com a razão, o “casamento” da data da fatura com o seu pagamento lhe traz vantagens fantásticas. Simplifica o orçamento, e o extrato do cartão de crédito, que pode ser consultado facilmente antes do vencimento, ajuda bastante a manter as contas sob controle.
Todavia, a grande maioria não segue isso e se empolga pela pouca dor de pagar com o cartão de crédito, e só quando a fatura chega, tempos depois, é que se dá conta de que a dor vai ser muito mais terrível do que pagar à vista.
Os planos de fidelidade são outras “facilidades” oferecidas, que estão cada vez piores. Quando o consumidor busca trocar a pontuação por passagens aéreas ou produtos eletrodomésticos, esses pontos são trocados por valores muito superiores ao de mercado. O ponto do cartão de crédito é igual a um carro usado. Na sua mão não vale nada, na mão da companhia aérea ou da empresa do cartão, eles valem ouro.
A busca por menores valores em passagens ou eletrodomésticos, no mercado, compensa muito mais do que se preocupar com pontos de cartão de crédito que poderiam ser usados para isso.
As anuidades, cada vez mais absurdas, chegam a valores superiores a R$ 300,00. Se você tem um movimento bom, e paga tudo em dia, ao reclamar do valor ou pedir o cancelamento do cartão (pois você não tem nada a perder, só a ganhar), no geral, as companhias, para não perderem o cliente, acabam isentando-o do pagamento de qualquer anuidade.
Se o consumidor deve à instituição financeira, entra no crédito rotativo e não tem capacidade de negociação, infelizmente, você está “em um mato sem cachorro”. A companhia sabe disso, ao analisar o seu volume de endividamento, conclui que não tem o mínimo interesse em de te dar desconto na anuidade. Seu caminho é um só: aceitar o valor exorbitante.
Então, prezados consumidores, exijam descontos, pesquisem e valorizem o dinheiro na sua mão pagando à vista ou usando o cartão de débito. Na hora, dói ver o dinheiro sumir da sua conta, mas evita que você entre em uma ciranda financeira perigosa onde o seu crédito é cortado assim que você se endivida demais.
Tenha comportamentos financeiros sustentáveis ao longo de uma vida, e se evitar o uso do cartão de crédito não é uma lei, ao menos é um ato de consumo bastante prudente e que poderá levar você cada vez mais perto do seu sucesso financeiro. Lembre-se que dinheiro não aceita desaforo e o seu futuro e de sua família agradecerão muito a você.