Cada vez mais, mais e mais pessoas enlouquecidas frequentam nosso cotidiano.
Naquela reforma, do construtor estressado, e pedreiros e serventes idem, ao síndico que vive à base de calmantes. Uma epopéia.
Da vizinha pronta para o ataque - ao construtor, pedreiros e serventes, e ao síndico -, ao vendedor da loja de material de construção - que é engenheiro e está ali porque você sabe, o país, a crise, e blá, blá, blá.
E tem a faxineira, também, que não pode ver a casa suja, que panica. A faxineira não suporta chegar e ver que vai ter que faxinar.
O zelador do prédio, idem, não tem condições de saúde para enfrentar o fato de que vai ter que zelar pelo prédio.
Todo mundo dando um jeito de botar seus demônios interiores para fora.
Você sabe, a boca fala do que o coração está cheio, então, é ódio, amargor, despeito, revolta, inveja, pra todo lado.
Uma sociedade alienada - vendida, mesmo -, que perdeu completamente a noção do rídiculo.
Sim, não se discute que as exigências, hoje, para a vida social, são inúmeras e muito maiores que em qualquer outra época: você tem que se esgotar de trabalhar para, quem sabe, obter um mínimo, como um teto e uma Tv, que te ajuda a esquecer, que tem que se esgotar para obter um teto e uma Tv, e, na faina exasperante, as pessoas se perdem em sua ansiedade, porque, claro, além, do mínimo é preciso sempre mais. E mais. Em uma sociedade atrasada e cafona como a brasileira, é preciso ostentar.
E aí é a perdição total. Só se vê gente louca. Ostentando.
Perde-se a saúde, e o senso do ridículo, para ostentar.
E não se vê, nimguém, por um único instante que seja, questionando esta realidade desesperadora: todos entram neste mesmo trem desgovernado e não se dão conta de que mais cedo ou mais tarde vão descarrilar.
E muitos espatifam-se, com efeito. Mas nem assim: voltam ao mesmo modus operandi, logo que deixam a UTI.
Afetos relegados a plano nenhum. O outro desimporta, em absoluto.
O foco é única e esclusivamente ter.
E ter.
Para depois confrontar-se com o vazio.
E buscar o outro para mostrar que tem; e estofar sua vida de superficialidades e falsidades.
Não passa pela cabeça de ninguém olhar para dentro, encontrar-se consigo mesmo, se perguntar se o que se busca com toda a saúde hipotecada é de fato necessário; é, de fato, imprescindível. Se vale a pena.
Não passa pela cabeça de ninguém, olhar em volta, e perceber que há um outro numa situação muito pior; perceber, que, em realidade, neste planeta atrasado e cafona, há bilhares de outros, em situação muito pior.
A grande maioria não consegue enxergar nada além do próprio umbigo. E haja mimimi.
Uma sociedade infantilizada.
Gente ignorante e que não quer aprender.
Não quer deixar sua zona de conforto - a ilusão de que se vive a vida e é feliz. Enquanto o entulho acumula-se pelos cantos. Porque a casa cai. Se não reformar, um dia, a casa cai.
Cadê a caçamba? Não pediram a caçamba? Pelo amor de Deus!