As relações universidade-empresa continuam precárias em nosso país, porque boa parte das universidades enfrenta obstáculos financeiros para a manutenção das atividades de pesquisa, e não tem condições de garantir o funcionamento da infraestrutura laboratorial e das centrais analíticas que vão assegurar a capacidade de inovação das empresas.
Apesar disso, muito vem sendo realizado, em parte pelo apoio do SEBRAE e das Federações das Indústrias e, em parte, pela persistência de algumas das nossas mais importantes universidades. Por isso, algumas medidas adquirem grande relevância para que se comece a verificar um aumento do interesse por melhor articulação entre universidades e empresas.
Em parte a importância do estreitamento de relações ocorre porque existe, no lado das empresas, uma dependência crescente dos produtos e serviços inovadores e, no que concerne à universidade, pelo aparecimento de novas oportunidades de captação de recursos e melhores condições de sustentabilidade, incrementando a sua participação no esforço de desenvolvimento do país.
Na prática, a articulação universidade-empresa permite a concessão de incentivos fiscais e estimula o crescimento em áreas estratégicas.
Ela pode se concretizar na forma de cursos de qualificação para os quadros técnicos das empresas, ou na realização de ensaios correntes utilizando a capacidade laboratorial instalada nas universidades, na realização de projetos de consultoria, na adequação dos produtos e processos aos regulamentos e normas, ou ainda em projetos de pesquisa sob contrato, a partir das demandas do setor produtivo.
Para a consecução de tais metas, torna-se imperioso quebrar alguns preconceitos, tais como pensar que a empresa irá tirar vantagens da universidade, já que ela tem o lucro por objetivo, e que a universidade será descaracterizada em suas missões e não deve assumir compromissos com o setor produtivo.
Além disso, as diferenças de linguagem e dos respectivos universos de trabalho observados nos dois ambientes e as difíceis interpretações, quase sempre contraditórias, nas óticas da universidade e da empresa, em especial nas expectativas da propriedade industrial e da comercialização de tecnologias, geram sempre um embate de ideias que dificultam uma aproximação que se traduza em resultados: incremento da competitividade das empresas, geração de mais dissertações de mestrado e teses de doutorado e melhor formação dos quadros técnicos e científicos.
Há alguns anos, funcionou um programa de subvenção econômica, que visava à apoiar as empresas capazes de realizar projetos inovadores. A crise econômica e as consequentes dificuldades financeiras acabaram por provocar uma retração do programa.
Agora, o assunto retorna, com grandes chances de produzir resultados, com a proposta de aplicar quase dois bilhões de reais por ano em projetos de cooperação entre universidades e empresas.
Os recursos serão originários de companhias do setor elétrico, de energia e petróleo, de telecomunicações e de mineração, que têm de investir, ou por contrato ou por dispositivos legais, cerca de 1% da receita líquida em pesquisa e desenvolvimento.
Se concretizada, a proposta poderá contribuir muito para o incremento da competitividade das nossas empresas e resultar em novo estímulo para as universidades, atualmente sob forte pressão, resultante do contingenciamento e do corte de recursos para a pesquisa.