Engraçado propor-me a tentar discutir, e consequentemente; convidá-los a pensar sobre o Autismo – mais conhecido cientificamente como Transtorno do Espectro Autista, uma vez que na maioria das vezes não temos e nem possuímos um conhecimento pleno sobre o que na verdade venha a ser o autismo, como lidar com uma pessoa autista, e principalmente, como reagir a um caso confirmado na família. Sabemos que de fato o autismo existe e quando questionados podemos dizer:- “Ah sim, é aquela doença lá!” como se soubéssemos, de fato, do que se trata. Pode-se até pensar que são casos raros - aquelas incidências difíceis de acontecer, pode-se imaginar o quanto deve ser difícil lidar com um autista, pode-se pensar também que é culpa unicamente e exclusivamente da genética e que não há nada que se possa fazer, e o que é pior, na falta de informação devida sobre o assunto pode-se acabar classificando, muitas vezes, os autistas como pessoas insuficientes e incapazes presas a um mero diagnóstico. Portanto e partindo deste princípio, quando nos deparamos com um caso de autismo, nós nos sentimos sensibilizados ou indiferentes ao fato?! Sabemos identificar um autista?! Levamos em consideração suas manifestações sociais?! Seu tratamento?! Seria esse o papel da sociedade, questionar-se sobre este transtorno; ou apenas são responsabilidades que os familiares de uma pessoa com autismo deveriam encarar?
No filme Uma Viagem Inesperada (Título Original: Miracle Run) lançado em 2004 pelo diretor americano Gregg Champion, o mundo desconhecido dos autistas é muito bem explorado através de uma história que conta a trajetória de uma mãe que não desiste de lutar para que seus filhos gêmeos, ambos diagnosticados como autistas, sejam aceitos pela sociedade não se rendendo as limitações impostas pela mesma. Embora o filme não mostre um caso de autismo grave, a história do filme é válida para que possamos questionar vários pontos críticos quando tentamos correlacionar o autismo e a sociedade em geral. De maneira bem resumida, o filme se inicia com Corrine (mãe) procurando ajuda em uma clinica especializada na qual possui uma equipe multidisciplinar, que após observarem seus filhos acabam que por diagnosticar os gêmeos como autistas. O andamento do filme se dá, primeiramente, pela busca da mãe em entender e aceitar a “doença” dos filhos e mostra, de forma formidável, o caminho que ela percorre para que seus filhos sejam estimulados e inseridos em uma rotina de vida normal. A narrativa concentra-se na busca da mãe em adequar os gêmeos à sociedade na tentativa de modificar todo um percurso estereotipado que “a doença” carrega, passando desde a não aceitação das escolas dentre outras várias situações preconceituosas, até conseguir chegar nas situações que possibilitaram que os gêmeos vivenciassem momentos de aprendizagem, interação e desenvolvimento de potencialidades.
O filme permite levantar algumas questões, tais como, o quanto o diagnóstico ainda é subjetivo e de difícil olhar clínico, o que o torna de certa forma tardio. No próprio filme é mostrada a dificuldade que vários médicos têm em diagnosticar, em uma das várias cenas em que a mãe percorre clínicas a fora, mostra profissionais alegando o atraso da fala como algo normal Além disso, é importante pensar que a problemática não está apenas no diagnóstico em si, é importante refletir também sobre como tal diagnóstico é transmitido às famílias e qual orientação é dada pelos profissionais em relação às possibilidades de tratamento. Por isso a extrema relevância em se ter o autismo como um assunto amplo e bem definido presente no contexto de todos os profissionais ligados a área de saúde e educação - para que além de poder fornecer o tratamento adequado para os autistas, possam também fornecer uma ajuda a seus familiares ou a todos aqueles afetados pelo diagnostico. Mais precisamente no campo da educação, não é segredo para ninguém que incluir pessoas com transtorno do espectro autista em salas de aula faz com que tal situação se torne um grande desafio para todos os envolvidos. De um lado, crianças que merecem ser estimuladas e integradas, do outro, profissionais não capacitados e sem o devido preparo. Parece-me que o caminho de superação, neste caso, torna-se uma via de mão dupla.
Outro aspecto relevante em ser considerado é o caráter explicativo sobre a “doença” que o filme possibilita mostrar, bem como as características principais dos autistas e como são as suas funcionalidades e suas interações com o mundo. O meu objetivo em citar o respectivo filme a você querido leitor, é porque tal filme trás um olhar positivo sobre as dificuldades da vida, e é claro, sobre o autismo. Positivo no sentido de superarmos limitações e preconceitos, pois talvez o nosso maior erro não seja nos comportamos de maneira sensível ou indiferente ao autismo, mas sim nos comportarmos com ignorância àquilo que nos é diferente.
Utilizei-me do filme apenas para elucidar que o mesmo comportamento da mãe, em tentar fazer o melhor para os seus filhos e em lutar pelos seus direitos, sejam os mesmos comportamentos de todos os profissionais da área da saúde e da educação juntamente com as famílias as quais passam pelo mesmo problema, os incentivando a sempre seguir em frente e tentar superar todas as dificuldades que possam aparecer. E que juntos possamos florescer!