Ontem, quando o relógio da Matriz soou doze pancadas lembrei-me de que naquele momento fazia exatamente vinte e quatro horas a mais na minha vida. Como o tempo é cruel, passa e a gente nem se dá conta disso. Envelheci um dia mais, diria o pessimista. Graças a Deus vivi mais um dos meus dias, o otimista. Se eu parar para pensar vou chegar à mágica conclusão que aprendi muito com tão pouco tempo. Curti minhas leituras, meus amigos, meus alunos, minha família, meus filhos e minhas netas. Da pequena Laura não esqueço um momento. Essa menina de 5 aninhos é o açúcar dos meus dias. Confesso que desejei que esse tempo tivesse algumas horas a mais.
Cultas pessoas costumam falar que o tempo é objeto de luxo. E é mesmo. Entretanto, com toda certeza, temos a sensação de que ele de alguma forma é sempre raríssimo. O nosso dia a dia nos condiciona a fazer tanta coisa que nos rouba a própria percepção das horas. Meu médico diz que para gastar melhor o meu tempo é preciso voltar do trabalho para casa por caminhos diversos dos de costume; vestir-se olhando para o espelho; pentear o cabelo com a mão esquerda; até mesmo colocar o relógio no punho que você não tem colocado. Vezes outras, ficamos pensando no tempo em que nada tínhamos para fazer. Caramba, nem posso lembrar nisso. Quando lembro não consigo entender como isso era suportado. Com mil coisas a fazer a gente acaba esquecendo a ociosidade e isso acaba por temperar o nosso dia com todos os ingredientes do bem - carinho, afeto, amor, dedicação, prazer, fé e esperança. É bom aproveitar o tempo para fazer o bem a quem quer que seja, com todos os recursos que temos, por todos os meios possíveis e em todos os lugares que pudermos. “A gratidão de quem recebe um benefício é bem menor que o prazer daquele que o faz” (Machado de Assis).
A criatura humana foi criada para viver essa mesma realidade de comunhão com Deus e com os irmãos humanos. No tempo em que praticamos o bem estamos indo no sentido que Deus colocou para nossas vidas. Será que nada ganho se vivo o amor? São João da Cruz responde dizendo que “o amor é o pagamento do próprio amor. Ou seja, quando amamos, nos experimentamos realizados e, em outras palavras, não queremos esperar nada em troca porque já possuímos tudo o que necessitamos”. São João da Cruz nasceu em 1542 em Fontiveros, província de Ávila, na Espanha. Seus pais pertenciam a uma família de posses da cidade de Toledo. Por ter-se casado com uma jovem de classe “inferior” foi deserdado pelos pais tornando-se um tecelão de seda. Nem por isso desperdiçou o seu tempo de amar as pessoas. Ame as pessoas, nada te custa.