Na última semana, meu padrinho faleceu em São José do Rio Preto. Ficou 12 dias internado na UTI, passou por duas cirurgias cardíacas, mas não resistiu.
Como qualquer pessoa, eu poderia ficar pensando em todas as vezes que podia ter ligado ou mandado uma mensagem, ou nas oportunidades de passar mais tempo com ele quando não o fiz. Mas escolhi outro tipo de pensamento.
Quero lembrar dele me levantando quase até o teto quando eu era bem criança e ele parecia um gigante perto de mim.
Do cheiro do perfume preferido que ele usou por décadas e que para mim era sinônimo de “padrinho”.
De ser um ex-caminhoneiro simples, mas carinhoso, para quem minha irmã e eu apresentamos “New York, New York” com sombrinhas infantis (fui a coreógrafa e dançarina).
Quero lembrar que ele e minha madrinha me deram meu primeiro livro da vida,
“O Menino Maluquinho”, no meu aniversário de 7 anos, e que assim começaram uma obsessão que nunca mais acabou.
Lembrar que me acolheram na casa deles quando prestei vestibular, e havia toalhas novinhas no banheiro. E fomos almoçar no restaurante simples do centro, fomos tomar caldo de cana, dar volta na represa e que todo dia, não importasse o horário que eu terminasse a prova, ele estaria me esperando em sua caminhonete.
Quero lembrar para sempre que ele AMAVA carros, e que o último que comprou encomendou com um laço vermelho gigante em cima, em cuja foto ele aparece, todo orgulhoso, mão na cintura, pose de vitória.
A vida é isso. Essa sequência de vitórias pequeninas que, na maior parte das vezes, a gente deixa passar. Mas que estão aí para serem degustadas, honradas e lembradas.
Que eu passe a aproveitar melhor as pequeninas vitórias, agora com minha madrinha. Que tenhamos muitos e muitos anos para construí-las juntas. Que saibamos que a morte… bom, que dizer da morte que ainda não foi dito? Porém a vida… a vida vem nessas colheradas repletas como no sorvete predileto do meu padrinho.
Em memória de Giberto Rubens Bertelli.