“Há pessoas, humildemente capazes que realizam grandes projetos na vida sem nunca buscar uma projeção pessoal”. Oliveira Prates foi um sinônimo de trabalho. O conheci quando cheguei em Votuporanga, no final da década de 60 a procura de um emprego no rádio. Ele era o gerente da Clube AM, com estúdio instalado na rua Amazonas, no andar superior no prédio das Lojas Riachuelo. Para chegar na emissora tinha que subir uma escadaria por fora do prédio. Oliveira estava lá, concentrado na sua sala e de pouca conversa. As suas ordens eram cumpridas com rigor.
Na época ele também era muito cobrado. O rádio é uma concessão do governo. O governo militar daqueles tempos exercia uma rígida fiscalização nos meios de comunicação. Agentes do DENTEL, órgão fiscalizador das emissoras, percorriam a região com muita frequência. Na cidade, a rádio concorrente, a Piratininga, saiu do ar porque fora “cassada” por um ato presidencial. Oliveira tinha conhecimento de todos os riscos que poderia sofrer também a emissora que administrava e, assim, policiava com determinação até nas músicas que tocavam e as palavras ditas nos microfones.
O rigor e a disciplina impostos no trabalho pelo gestor Oliveira Prates suscitaram até casos engraçados. Certa vez, dia de eleição, ele montava os estúdios da emissora no clube para a transmissão da apuração dos votos. Mesas, caixas de som, microfones e aquela parafernália de fios por todos os lados. O Juiz de Direito vistoriou o local, estranhou a movimentação do pessoal da rádio e chamou o responsável. O Oliveira se apresentou e o juiz foi de bate-pronto: “O que é que o senhor vai radiar daqui?”, perguntou o magistrado. Oliveira respondeu: “Números, excelência, apenas números”. O juiz riu diante do óbvio; não havia resposta melhor.
Uma outra passagem que reflete bem o seu estilo próprio deu-se com o padre. Naquele domingo, Oliveira anunciou para os ouvintes do rádio o início transmissão da “Santa Missa”, direto da igreja. Abriu a linha de transmissão e entrou no ar umas mulheres cantando. De repente, parou e começou um outro canto. Oliveira ligou na igreja e ficou sabendo que ainda não era a Missa: o padre havia se atrasado e as mulheres estavam ensaiando o canto da missa. Oliveira ligou para o padre: -“Sacerdote, somos a única rádio do mundo que transmite um ensaio de Missa. Por favor, horário de rádio é para ser respeitado e vamos lá, começa logo essa Missa”, ordenou.
Além da administração, Oliveira tinha o seu dom artístico. Era um notável noticiarista e com bom timbre de voz para gravação de anúncios comerciais. Polivalente, na sua atividade, Oliveira também conhecia bem o emaranhado dos equipamentos eletrônicos da época. Com uma chavinha de fenda nas mãos operava milagres na manutenção das máquinas que produziam o som do rádio. Ali só se chamava um técnico especializado se o Oliveira não desse jeito. Fora disso, nas transmissões externas como do futebol ao Carnaval de rua e marchas das eleições cumpria-se à risca os seus projetos e determinações. Ninguém ousava sair do script.
Com este respeitado potencial profissional, novos horizontes se abriram no mercado para o Oliveira Prates. Aceitou o desafio de implantar uma rádio no município de Nhandeara. Mais tarde instalou outra emissora na região, a rádio Alvorada de Cardoso. Na sua companhia, perambulamos por outras emissoras que passaram pelas nossas mãos, como Monte Aprazível e Penápolis. Nada, porém, foi tão gratificante como transformar a antiga “rádio “8 de Agosto”, na rádio Cidade dos dias atuais. Um trabalho de folego, sem o Oliveira seria impossível.
Os tempos passaram, ele se reciclou. Cansou do rádio, mas não cansou de trabalhar. Formou com o seu filho Édson uma nova empreitada e juntos dedicaram-se na remodelação do conceituado Escritório Contábil Mercúrio. Oliveira partiu no último domingo, dia 23, mas guardamos o seu exemplo de trabalho e seriedade em tudo que fez. Esses dons hão de permanecer para sempre na memória de todos que tiveram o privilégio de compartilhar os seus dias na terra.