Carlos Roberto Pereira, de 61 anos, morava há 22 anos em Brumadinho, região atingida pela lama de rejeitos da barragem da Vale.
Filho procurava pelo pai, Carlos Roberto, que trabalhava na Vale em Brumadinho — Foto: Arquivo Pessoal
O filho do líder de almoxarifado Carlos Roberto Pereira, de 61 anos, que teve o corpo encontrado na quarta-feira (5) após cinco meses do rompimento da barragem em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, afirmou ao G1 que revive a dor da tragédia com a confirmação da morte do pai.
“Nós já vivemos o luto quando o acidente aconteceu. Agora, com o encontro do corpo, volta tudo. Antes tínhamos uma pontinha de esperança, mas agora houve a confirmação”, diz o filho Reinier Faustini Pereira, 31 anos.
Segundo o Corpo de Bombeiros, a vítima foi encontrada a oito metros de profundidade e estava em uma área considerada prioritária já que segmentos de outros corpos também foram achados no local.
De acordo com os bombeiros, o corpo de Carlos Roberto Pereira, que morava em Brumadinho há 22 anos, estava praticamente intacto graças a um fenômeno conhecido por saponificação que desacelera o processo de decomposição.
De acordo com o porta-voz dos bombeiros, o tenente Pedro Aihara, a concentração de minério, a baixa temperatura e a umidade ajudaram a preservá-lo.
A área onde o corpo foi encontrado era local de operação de maquinário pesado na Mina Córrego do Feijão, pertencente à Vale. Um trabalho de cruzamento de dados é feito para otimizar as buscas que já duram 161 dias.
Ao G1, Reinier Faustini Pereira, que mora em São José do Rio Preto (SP), explica que o corpo do pai dele foi levado ao Instituto Médico Legal (IML), onde foi identificado por uma equipe da Polícia Civil que encontrou os documentos dele no bolso da calça que vestia.O irmão dele, que mora em Minas, foi chamado ao local e fez o reconhecimento do pai.
“Como já se passaram cinco meses, o caixão deverá estar fechado. Portanto, não vai ter velório. Somente um enterro rápido e simbólico. Ele vai ser enterrado em Divinópolis (MG), onde minha avó mora e meu avô está enterrado. Não sabemos quando o enterro será feito. Ainda estou tentando ir para lá”, afirma.
O vendedor também conta que família dele ainda espera que a Justiça seja feita e que os responsáveis paguem por todo sofrimento enfrentado por eles durante os cinco meses.
“Nós esperamos que a Justiça seja feita, que isso não aconteça com mais nenhuma família. Só quem passa por isso sabe o quão difícil é. Ainda mais nesse caso, que você vive o sentimento duas vezes”, desabafa o vendedor.
'Estava trabalhando'
No dia em que a tragédia aconteceu, Reinier afirma estava trabalhando e ficou sabendo quando voltou do almoço e viu a notícia sendo divulgada pelos meios de comunicação
No entanto, ele afirma que não tinha feito ligação entre a tragédia e a possibilidade de o pai dele ser um dos desaparecidos e até tinha comentado com amigos que o familiar morava na área.
A última vez que o vendedor falou com o pai dele foi por telefone um dia antes do acidente. O vendedor continuou ligando para o celular de Carlos diversos dias após o acidente, que só dava caixa postal. Carlos era funcionário de uma empresa que prestava serviço para a Vale.
Até o momento, 247 mortes já foram confirmadas e 23 pessoas estão desaparecidas. A Defesa Civil de Minas Gerais ainda não atualizou o balanço.