Crise econômica causada pela pandemia trouxe prejuízos para o agronegócio, mas o setor de orgânicos teve uma demanda maior de consumo
Produtos de Luiz Augusto Nicolletti são comercializados em condomínios de Rio Preto (Foto: Divulgação/Diário da Região)
O telefone não parava de tocar. Era meados do mês de março na Horta Mandalla e a quarentena, por conta do coronavírus, só estava começando em Rio Preto e em todo o estado paulista. O casal de agricultores Ceci Bonito e Reinaldo Paulino do Prado, que já trabalhava com o sistema de entrega das cestas nas casas dos clientes, duas vezes por semana, viu o negócio se multiplicar. "Nem tivemos tempo de parar para pensar, foi tudo muito rápido, com muitos novos clientes que ainda não conheciam os produtos naturais, sem agrotóxicos", conta Ceci.
A crise econômica causada pela pandemia do novo coronavírus trouxe muitos prejuízos para o agronegócio - mesmo que se considere o setor de alimentos o de menor impacto - , mas o setor de orgânicos teve uma demanda maior de consumo. A produção de alimentos cultivados de forma mais natural, sem o uso de agrotóxicos, ainda que chegue timidamente aos consumidores da região de Rio Preto, registrou um aumento de mais de 50% nas vendas. Produtores rurais que trabalham nesta área acreditam que, tanto o fato dos alimentos serem mais saudáveis ou da facilidade em adquirir os produtos pela internet, são os motivos do aumento da procura por parte dos consumidores.
Foi essa demanda em crescimento que motivou a Ceci e o Reinaldo a ampliarem os atendimentos aos clientes de Rio Preto, e agora também, às cidades de Mirassol e Bady Bassitt. "As entregas das cestas eram realizadas duas vezes por semana, apenas em Rio Preto. Mas com a pandemia, ampliamos o atendimento durante a semana toda e até aos sábados", disse Ceci. As opções de produtos também foram ampliadas, com mais de 100 itens entre verduras, legumes e frutas, todos produzidos sem o uso de agrotóxicos.
A lista com todos os itens é enviada por WhatsApp, semanalmente. Ceci separa todos os produtos e, a partir das 11 horas, Reinaldo faz as entregas que o cliente escolheu. Todo o trabalho é dividido com dois funcionários, na chácara de um hectare, localizada em Ipiguá.
Além disso, os agricultores também se cadastraram em um aplicativo- criado durante a pandemia-, em que se oferecem produtos e serviços sem que os consumidores precisem sair de casa. "Através deste App, fizemos muitas vendas e conquistamos muitos clientes que aprovaram os alimentos da nossa produção natural", disse Ceci. Alimentos como limão, acerola, mel, açafrão e muitos outros que ajudam a fortalecer a imunidade do organismo, conforme a agricultora tiveram as preferências do consumidor.
Os alimentos que Ceci não produz na chácara, para atender toda a demanda por produtos que não levam agrotóxicos em seu manejo, há a parceria com outros produtores rurais. "Foi surpreendente também, os produtores que nos procuraram para incluir seus alimentos em nossas cestas, já que eles estavam perdendo lavouras, pelo fato de muitos fornecerem para restaurantes e hotéis", afirmou.
Pancs também em alta
As Plantas Alimentícias Não Convencionais (Pancs), como cavalinha, beldroega e folha de moringa, cultivadas pelo casal Ceci e Reinaldo, também integram a lista de mais pedidas, principalmente por quem busca alimentos saudáveis. "Especialmente na pandemia, as pancs foram muito procuradas, além das ervas para os chás, como o guaco e o poejo. O que podemos observar, as pessoas estavam com muita pressa e a alimentação, às vezes, esquecida. Agora é um novo olhar, um aprendizado", analisa a agricultora.
O produtor Luiz Augusto Araújo Nicolletti notou a demanda por produtos cultivados sem o uso de agrotóxicos em até 70%, nos últimos dois meses, da produção de um hectare no distrito de Engenheiro Schmitt, em Rio Preto. "A procura aumentou, até mesmo porque as pessoas não podiam sair de casa, pelo fato da pandemia e do isolamento social. Com o delivery, podemos atender os clientes."
A família de Luiz Augusto trabalha no negócio da família, que começou com a plantação de tomates. Atualmente há a diversificação de culturas cultivadas, como verduras, legumes e algumas frutas. "Meus pais são professores aposentados, mas já temos uma tradição de agricultura de outras gerações. Meu pai com 73 anos de idade, vai todo dia para a roça comigo e minha mãe processa os alimentos, tudo cultivado sem o uso de agrotóxicos", disse Luiz Augusto, lembrando ainda que a irmã e o cunhado cuidam das cestas.
Luiz Augusto comercializa os alimentos em feiras realizadas em onze condomínios de Rio Preto, mas os pedidos também podem ser feitos através da rede social (Instagram) e por aplicativo de mensagem. Os projetos para o futuro, de acordo com Luiz Augusto, é ampliar o negócio, com o cultivo de novas culturas, além do investimento em cursos, como o que ele pretende fazer, sobre o manejo da agrofloresta - um sistema que reúne as culturas de importância agronômica em consórcio com a floresta.
*Diário da Região