Cartórios apontam aumento de 64% das mortes em casa por causas cardiovasculares em Rio Preto
Medicina cardiovascular (Banco de imagens: Freepik/Macrovector)
"Era por volta das 14h30 da tarde, quando comecei a ter dor na mandíbula, logo passou para os braços e com muito calafrio", conta Maria Angélica Borges de Almeida Lopes, 65 anos, sobre o infarto que sofreu em 2015. "Fui atendida, medicada e até as 19h estava operada com stent. Hoje estou ótima". O relato da moradora de Monte Aprazível vem como um alerta: atendimento rápido em casos de enfarte ou acidente vascular cerebral (AVC) pode ser a diferença entre viver e morrer. Em meio à pandemia de Covid-19, porém, muita gente tem demorado a agir quando passa mal, o que tem provocado aumento em mortes em casa em todo o País. Em Rio Preto, os óbitos em casa, por causa inespecífica cardiovascular, aumentaram 64% durante a quarentena, em comparação com 2019.
Os dados são da Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Estado de São Paulo (Arpen-SP) e estão relacionados aos registros de óbitos entre 16 de março e 31 de maio. Segundo o levantamento, 54 óbitos foram contabilizados no período como morte súbita, parada cardiorrespiratória ou choque cardiogênico. No mesmo período do ano passado esse número foi de 33 mortes.
Por outro lado, as mortes por infarto, constatadas nas emergências dos hospitais, reduziram 57% - 52 óbitos a menos em comparação com o ano passado. As mortes por AVC também caíram, com 11% a menos na comparação. "A principal hipótese é de que pessoas com problemas cardíacos tenham reduzido a ida ao médico por receio da Covid. Mas se você tem sintomas, você deve acionar os serviços de emergência. Tem todo um protocolo para ser feito", alerta o professor doutor da Famerp e do Hospital de Base Fernando Bruetto.
Segundo o profissional, o aumento de mortes em casa por problemas cardíacos já vinha sendo alertado desde abril pela Sociedade Brasileira de Cardiologia. "Colegas já relatavam uma redução de 20% a 70% nos atendimentos de ataques cardíacos. Ao mesmo tempo, nos países com pico de Covid na época, como na Itália, estava tendo um aumento de 800% nas mortes súbitas em casa", afirmou.
O inverno e as gripes da estação, segundo o médico, são fatores que também podem ter contribuído com os dados. "Imagina uma pessoa com fatores de risco para as doenças cardiovasculares, como pressão alta, diabetes, colesterol alto, tabagismo e placas de gordura, ser submetido ao estresse de uma gripe? Isso pode aumentar a chance de infarto em até seis vezes".
No caso dos infartos, o médico afirma que, dos pacientes que vão para o pronto-socorro, mais de 90% têm chance de sobreviver. Este é o caso de Maria Angélica. Ao passar mal em casa, ela foi levada pela família de imediato para o pronto-socorro e, em seguida, transferida para o HB. "Em Monte já me deram remédio e eu vim tomando soro na ambulância. No HB, o doutor Fernando fez um eletrocardiograma e na hora disse que eu precisava fazer um cateterismo", contou a paciente. "Hoje mudei hábitos e faço exames todos os anos."
O cardiologista do Instituto do Coração (Incor) de Rio Preto Augusto Sardilli alerta que deixar de procurar ajuda por medo do coronavírus não se justifica. Segundo o médico, esses pacientes que estão morrendo em casa podem ter tido fatores de riscos pré-estabelecidos, que ligavam alerta para a necessidade de ir até o pronto-socorro ou procurar um médico de confiança.
No caso do infarto, o alerta é para sintomas, como dor no peito intensa e aperto que irradia para os membros inferiores associada a náuseas, vômitos, suor e, geralmente, depois de esforços físicos. "Mas nem sempre assim. Às vezes é uma dor na boca do estomago, às vezes nas costas que sobe para nuca e todas merecem atendimento médico", alerta Sardilli.
Já o AVC é reconhecido no paciente que vinha bem e de repente não consegue falar, fica com a perna e o braço com dificuldade de movimentar e com a boca torta. "Pacientes que também necessitam de um atendimento mais breve possível para sair sem graves sequelas", afirma.
O cardiologista lembra que nos prontos-socorros há protocolos, com atendimentos de sintomas gripais separados, o que dá segurança para esses pacientes não deixarem de ir ao médico. "Se você estiver com esses sintomas que podem ser fatais, você tem que procurar o médico", disse. Ele também alerta para a importância de manter medicações contínuas, atividades físicas e alimentação saudável. "É bom evitar ganho de peso e aumento de bebida alcoólica", finalizou.
*Diário da Região