Valéria e Márcia Gianoti na Rádio Cidade
Leidiane Sabino
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Márcia Gianoti, diretora de eventos da Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), acompanhada de Valéria Ansiães Maximimo, mãe de um dos alunos da entidade, estiveram ontem no programa Jornal da Cidade, da Rádio Cidade, e falaram do trabalho desenvolvido pela instituição em Votuporanga e também destacaram a importância da manutenção destes serviços especiais.
Há uma preocupação nacional com a votação do PNE (Plano Nacional de Educação), que prevê a retirada de recursos da educação para escolas especiais e a inclusão de todos os estudantes nas unidades de ensino regular. O texto passa por avaliação dos senadores.
“Não vemos a possibilidade da escola pública assumir este trabalho de educação especial. Não sei qual é a ideia do MEC (Ministério da Educação). Nossas escolas não estão preparadas para isso, inclusive fisicamente, elas têm escadas, não têm rampas nem elevadores, algumas funcionam em prédios com três ou quatro andares, funcionários não têm os cursos que precisam ter para atendê-los. A maioria das Apaes trabalha com assistência social, saúde e educação. É este conjunto de três áreas que faz com que eles consigam progredir. Tínhamos crianças com diagnósticos de que não andariam, não falariam, e hoje estão andando e falando”, disse Márcia. Ele contou que não vê a possibilidade de todo este trabalho ser prestado pela escola regular.
Para Márcia, quem elaborou este projeto não conhece a educação especial. “Atrás de uma mesa, com uma caneta nas mãos, sem conhecer a realidade das coisas. Só na base da teoria, não conheça a prática, porque quem sabe como é não faria jamais um projeto deste”, disse.
Mesmo com toda a aflição gerada com a possibilidade das Apaes perderem recursos. Márcia está confiante de que o Senado não aprovará o projeto. “Talvez o senador não tenha vislumbrado este problema imenso que iria criar”.
A Apae de Votuporanga defende que seus alunos não são excluídos. “Estamos dando atendimento especial para quem necessita, assim como diz a própria Constituição Federal. Nossos alunos interagem com a sociedade, são levados a todos os locais, nas feiras, nas festas e nas comemorações cívicas. Recebemos visitas de clubes de serviço e de outras escolas”, falou Márcia, que também é conselheira estadual da Federação Estadual das Apaes.
Para se manter, a entidade tem diversas fontes de recursos, recebe dinheiro da Educação Estadual e Municipal e possui convênios com a Secretaria de Assistência Social. “Estado e União repassam pouquíssimas verbas. Há 12 anos temos convenio firmado com a Prefeitura, por meio das Secretarias de Assistência Social e Educação, que nos dá a condição de oferecer o atendimento. De 55% a 60% dos gastos anuais custeados por verbas públicas, o restante conseguimos com o telemarketing, leilão e eventos”, contou Márcia.
Um exemplo do bom atendimento
Hoje, a Apae de Votuporanga atende 137 alunos, no próximo mês deve receber mais seis ou sete, dependendo do resultado da avaliação que eles estão passando. São 51 profissionais envolvidos neste trabalho.
Um destes alunos é Bruno Ansiães, filho de Valéria; ela faz parte do colegiado da Federação das Apaes do Estado de São Paulo.
Bruno tem quatro anos e está na Apae desde bebê; ele é deficiente intelectual. “Sou privilegiada por ter o atendimento na entidade. Chegamos na Apae num momento muito difícil de nossas vidas. O Bruno ficou mais de dois meses internado na UTI e os médicos falaram que ele não iria andar nem falar e, com muita dificuldade, teria uma vida útil, porque ele mal conseguia comer e precisava de um profissional que o ensinasse a comer. Fui muito bem atendida e hoje devo a vida do meu filho e a felicidade da minha família à esta instituição”, disse sua mãe.
Hoje, o Bruno fala, anda e lê. “Tenho outros filhos nas escolas comuns e o que a gente percebe é que nem todas as crianças conseguem se alfabetizar quando saem do ensino público ou até mesmo particular. Com todas as dificuldades que o Bruno tem, através do atendimento que lhe é dado, hoje ele está ultrapassando esta fase. Se estivesse numa escola comum, seria um mero espectador da aprendizagem das outras crianças e ele tem necessidade de ser ator da própria aprendizagem”, comentou.
Para Valéria, toda comunidade de mães que estão na Apae com seus filhos, o momento é de grande angústia. “As pessoas que elaboram essas leis não têm em suas famílias com essas necessidades. Há muitos anos, estas pessoas especiais eram esquecidas e nenhuma instituição ou governo fez lei para acolhê-las. Foram pais e amigos que se reuniram para criar estas instituições. Como hoje elas recebem uma parcela ínfima do governo, estão vendo as crianças como um cifrão. O Governo quer incluí-las no ensino público como forma de não ter que efetivar estes repasses para as entidades. É uma atitude cruel com as crianças e essas famílias. Muitos dos que estão lá serão crianças para sempre”, desabafou.