Leidiane Sabino
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O país vive uma epidemia de cesarianas, em Votuporanga não é diferente. Dos 275 partos realizados entre janeiro e fevereiro deste ano no município, foram 247 cesarianas, o que corresponde a 89,8% do total, e 28 partos via vaginal, conhecidos como parto normal.
Em janeiro, a Santa Casa realizou 111 cesáreas e cinco partos normais. Em fevereiro, foram 136 cesáreas e 23 partos normais. O outro hospital da cidade não informou a quantidade de partos que fez nos primeiros meses do ano.
Dados do Ministério da Saúde apontam para uma situação alarmante: em 2009 o país alcançava a sigla de 50% de partos cesáreos, em 2010, a taxa subiu para 52%. A Organização Mundial da Saúde recomenda que essa taxa fique em torno de 15%. Na rede privada, o índice de partos cesáreos chega a 82%. O índice é recordista mundial. Quando a situação exige, a cirurgia cesariana traz benefícios à gestante e ao recém-nascido. Mas, quando feita de forma indiscriminada, como vem ocorrendo, pode implicar em riscos para a mãe ou para o feto. Para impedir que o parto cirúrgico ocorra sem necessidade, a saída é o parto humanizado.
A enfermeira Raquel Furlanetto da Fonseca, especialista em pré-natal e profissional da rede básica da Secretaria de Saúde de Votuporanga fala sobre os benefícios do parto normal. Ela diz que um dos principais objetivos do Ministério da Saúde é incentivar o parto normal humanizado. “As vantagens são tanto para a mãe quanto para a criança. A recuperação da mãe é mais rápida e melhor. Os riscos de infecção hospitalar são menores, a incidência de desconforto respiratório para o bebê também é menor e ainda reduz-se o risco de mortalidade materna e neonatal”.
Segundo a enfermeira, a rede de Atenção Básica do município trabalha durante todo o pré-natal orientando as gestantes sobre os benefícios do parto normal.
É o médico quem deve decidir qual o parto mais indicado para a gestante. “Porém, se ela não quiser fazer o parto normal, o médico não vai proibir”, diz Raquel.
Todas as unidades de saúde do município realizam grupos para gestantes pelo menos uma vez por mês. Além disso, o Prosad (Programa de Saúde do Adolescente) e Proapi (Projeto de Apoio à Primeira Infância) também desenvolvem ações que oferecem orientações às gestantes.
Raquel ressalta que a Santa Casa de Votuporanga tem investido em humanização do parto, oferecendo assistência para que a futura mamãe tenha a maior tranquilidade possível durante este momento.
Em muitos casos, lamentam os especialistas, a escolha pela cesárea é por motivos banais. Data de aniversário no mesmo dia do que a mãe, agendas complicadas, mês, signo preferido, medo das dores do parto e o desconhecimento das vantagens do parto normal já apareceram como justificativa. Há também os casais que marcam a cesárea para dias como 11/11/2011 só por causa do ineditismo da data.
Estudos internacionais já demonstram que fetos nascidos entre 36 e 38 semanas, antes do período normal de gestação (40 semanas), têm 120 vezes mais chances de desenvolver problemas respiratórios agudos e, em consequência, acabam precisando de internação em unidades de cuidados intermediários ou mesmo em UTIs neonatais. Além disso, no parto cirúrgico há uma separação abrupta e precoce entre mãe e filho, num momento primordial para o estabelecimento de vínculo.