A biografada da história não interferiu no roteiro, nem pediu modificações das cenas
Depois de nove semanas e meia de cenas de prostituição, drogas e relatos picantes na internet a vida de Deborah Secco já não é mais a mesma. Quem garante é a própria atriz ao descrever o período das filmagens de “Bruna Surfistinha”, longa de Marcus Baldini inspirado na história verídica de Raquel Pacheco, a ex-garota de programa famosa por detalhar em blog sua rotina com os clientes.
Para todo trabalho que fiz doei um pouco de mim. Mas nunca havia me doado tão
intensamente. Mergulhei na preparação, cheguei ao set virgem de qualquer vício de
interpretação”, definiu Deborah. “Nove semanas e meia de ‘Surfistinha’mudaram minha vida. Fiz coisas que talvez nunca mais faça novamente”.
Nessa lista Deborah não inclui nudez ou sexo – ela beija e acaricia outra atriz, rebola vulgar num balcão de bar, entre outras ousadias no filme. Mas não foram esses os maiores desafios para ela. “A cena da overdose foi a mais complicada. Nunca usei drogas, não sabia como tornar convincente o momento em que a personagem cheirava cocaína. Pedi orientações para um médico, para que me explicasse os efeitos, as reações que a droga causa”, relembra. “Fazer cena sensual não foi tão difícil. Já fiz outras mulheres sexies e sei como emprestar um pouco da minha sensualidade para que a cena fique realista”.
Deborah também cita as filmagens na região da Cracolândia e as conversas francas que teve com garotas de programa no período de preparação de sua “Surfistinha”. “Ouvi história de mulheres que se prostituem para criar o filho, vi meninas com o olhar já anestesiado pela dor, e também vi outras que encaram apenas como uma escolha. Elas são todas guerreiras, não prejudicam ninguém, só a elas mesmas”, opina.
Diferente da maioria dos filmes que abordam a prostituição, Baldini diz que procurou não fazer julgamentos, nem mostrar a trajetória de Bruna como um pesar sem fim. “Toda moeda tem dois lados. A Bruna sofre, paga um preço alto por suas escolhas, mas ela também se diverte, tem seus bons momentos”.
O cineasta conta que a biografada da história não interferiu no roteiro, nem pediu modificações de cenas.“Não fizemos um documentário sobre a Raquel. O filme é inspirado nos sentimentos dela, em passagens que um dia ela relatou no blog e no livro”, explica, citando a biografia escrita pela ex-garota de programa, "O doce veneno do escorpião" (2007). “Ela acompanhou o processo de perto e foi muito respeitosa: entendeu que o filme é meu olhar sobre a sua trajetória”.
Deborah explica que decidiu conhecer Raquel só depois de ter sua “Bruna pronta”. “Nós passamos o dia juntas, foi muito prazeroso. Enquanto conversávamos, eu ia percebendo que a Bruna que desenvolvi para o filme tinha várias coisas em comum com aquela menina na minha frente”, descreve. “Acho a Raquel de uma coragem sensacional. Ela se assumiu, dividiu com o mundo esse momento que teve na vida. Uma vida aliás que de fácil não tem nada”.
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