Ex-morador de rua lança livro neste sábado, a partir das 20 horas, na Associação Antialcoólica
Andressa Aoki
andressa@acidadevotuporanga.com.br
Expor a sua vida e apresentar à cidade os seus problemas não é fácil. Mas o representante de vendas Cleber Lazarini tirou de letra o desafio e lança neste sábado, a partir das 20 horas, o seu livro "O alcoolismo visto por dentro - Entre a vida e a morte", na Associação Antialcoólica.
Cleber, que já foi morador de rua, conta na obra, detalhes de sua vida como alcoólatra. Ele que começou bebendo quando tinha 13 anos, chegou a morar na rua por conta do vício. "Eu bebia o restinho da caipirinha do meu pai. Fui para São José do Rio Preto em 1983, aos 19 anos, para trabalhar em uma multinacional. Para mim, foram duas alegrias: atuar na empresa e ficar longe dos pais para beber à vontade, sem eles me dando bronca", disse.
Cleber afirmou que começou a ingerir cerveja e depois todo tipo de álcool. "Não valorizava o que estava bebendo, bebia apenas para ficar bêbado", destacou. No outro município, o votuporanguense casou e teve um filho em 1991, João Guilherme. "Sempre pediam para eu parar de beber, até que uma vez, minha ex-exposa mandou eu escolher entre ela e meu filho ou a bebida. Decidi pelo álcool e fui para a rua", lembrou.
Por conta do vício, ele também foi despedido do emprego. "Eu ingeria café com pinga dentro do serviço e teve um dia, que o chefe pegou. Fui demitido na mesma hora", enfatizou. Não tendo casa e nem emprego, foi na rua que Cleber ficou morando por dois anos.
Na época, o autor do livro tinha apenas 38 quilos. "Não fazia refeição, apenas comia legumes, verduras ou alguns salgados que recebia dos supermercados", complementou. Foi embaixo do pontilhão que o representante de vendas passou por um episódio que jamais irá esquecer: teve 33% do corpo queimado. "Eu dormia debaixo do pontilhão quando dois rapazes atearam fogo em mim. Fui socorrido por frentistas e tive braços, barriga e pernas queimadas", afirmou. As
queimaduras renderam 78 dias de internação no hospital, quando reencontrou sua família.
Apesar da ocorrência, o votuporanguense ainda ficou em Rio Preto. Cleber tentou suicídio, se jogando em um ônibus. "Uma mulher me puxou e me levou para uma lanchonete. Ela me deu um cartão de uma Igreja, mas na época nem dei atenção", disse ele, que hoje considerada a mulher como um anjo.
Mas foi depois de um tempo, que voltou para Votuporanga. "Ficava na rodoviária para beber. Você sempre ganha dinheiro lá. Teve dias que consegui R$ 30 e trocava nos bares. Até que um dia, fui parar a 30 quarteirões do terminal, em frente a autoescola da minha ex-cunhada. Ela cuidou de mim e vim para Votuporanga", ressaltou.
A sua volta para a casa de sua mãe foi considerada como a história do filho pródigo. "Meu irmão caçula se revoltou, mas o restante da família me acolheu. Para a minha mãe, foi apenas felicidade", destacou.
Cleber procurou ajuda do padre Silvio Roberto e prometeu a ele que não beberia mais. Promessa que já dura 13 anos de sobriedade. "Os primeiros 90 dias são horríveis, tanto que quando você entra na Associação Antialcoólica, depois deste período, você recebe uma medalha. Bêbado só deixa de beber quando o outro começa a falar sobre a doença. Um dá força para o outro. A cada depoimento que escuto, mais longe eu fico do álcool", ressaltou.
O autor do livro também falou sobre a dificuldade dos álcoolatras procurarem ajuda. "Eles não assumem a sua condição. Costumo falar que o álcool é como agiota, em troca de moedas, te tira a vida", emendou.
Sua experiência já lhe rendeu palestras pela região e agora ele pretende ajudar alcoólatras. "Quero que se identifiquem com a minha história e não cheguem ao fundo do poço", finalizou. O livro estará disponível a R$ 20, nos supermercados Porecatu, Santa Cruz, na Impress e Doidão.
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