Sentir saudades é algo natural a todos nós e é também a prova de que já vivemos ou vivenciamos coisas que nos fizeram muito bem e, por isso, sentimos saudades. O que, no entanto, passa a não ser muito natural ou saudável para nós todos é o fato de anularmos o que estamos vivendo hoje. Assim, se nos prendermos ao eterno passado que um dia nos fez bem, não estaremos livres para descobrir os novos sabores que a vida nos oferece.
Quando a dor da saudade é tão aguda que não deixa esperança de encontrar um remédio que apresente solução, é hora de rever os nossos conceitos e considerarmos as belezas que existem no hoje e no agora, que estão prontas para nos servir se verdadeiramente as buscarmos.
A saudade também pode ocorrer porque temos, muitas vezes, a impressão de que aquilo que por nós foi vivenciado não foi, por algum motivo, completo. Por isso, sentimos uma saudade perturbadora que não nos deixa ser felizes com os recursos que temos no presente.
Todos nós precisamos aprender a administrar a saudade, principalmente quando ela é causada pela ausência irremediável de alguém. Não são raras as vezes que vemos situações de pessoas que vivem em função de um sofrimento muito grande porque a pessoa querida não está mais ao seu alcance. E tal sofrimento piora quando se acredita que houve erros quando ainda seria possível beneficiar-se da presença da pessoa, hoje ausente.
O que pode ser feito nesse caso é lembrar daquilo que foi possível viver de bom junto a ela, desde que essa lembrança não seja dotada de pessimismo, mas de uma visão que considere verdadeiramente os aprendizados alcançados durante essa vivência e que precisam ser levados adiante.
Num primeiro momento, lembrar e considerar apenas o lado bom de quem um dia esteve conosco não é fazer vistas grossas a nada, mas uma atitude para se curar de algo que causa fraquezas, recobrando forças para continuar e, no momento certo, colocar na balança os possíveis erros cometidos no momento em que ainda se tinha a presença da pessoa e, assim, não os cometer novamente.
Nossos jovens, alunos e filhos precisam entender que é possível, sim, superar a saudade de algo que já se foi e, ainda, que se foi sem nós termos tido a oportunidade de sentirmos que poderíamos ter feito mais e melhor. Perdas e interrupções de fases podem acontecer com todos nós, pois nada do que somos e conseguimos com os nossos esforços nos coloca numa posição de decidir sobre o tempo que temos para viver na presença de algo ou de alguém.
Na escola, em reflexões sobre possíveis meios de administrar a saudade, o professor não pode mostrar insensibilidade aos dramas de seus alunos, ainda que tais dramas não sejam significativos a ele, pois se o aluno pensar que seu professor é indiferente à dor que ele demonstra ter, todo o processo de reflexão que poderia torná-lo mais apto para viver com menos conflito, em dias tão tumultuados como os nossos, poderá ir por água abaixo. Isso porque o aluno pode construir uma barreira com bruscas pedras entre si e o professor, a qual impedirá a entrada de quaisquer ações por parte daquele que tem o papel de instruí-lo.
Todos nós que estamos diariamente em contato com jovens alunos podemos identificar diferentes oportunidades para começar a introduzir momentos de reflexão sobre a boa administração da saudade. É possível que a saudade esteja camuflada de frustrações, mas não deixa de ser saudade.
A insistência em falar sempre do mesmo assunto, a preocupação em relatar com intensidade como se deu algo em sua vida que todo mundo já sabe, a falta de esperança em viver novamente momentos como os do passado e tantas outras situações mostram ao professor que a saudade de algo que foi ou não vivido como o aluno ainda deseja, não está sendo administrada como deveria. Sozinhos, nossos jovens alunos não saberão como olhar para a frente e continuar, pois a vida sempre nos dá novas possibilidades de descobrimos prazeres dignos de ser por todos nós desfrutados.
*Erika de Souza Bueno é Editora do Portal Planeta Educação (www.planetaeducacao.com.br); Coordenadora Educacional da empresa Planeta Educação; Professora e consultora de Língua Portuguesa; Articulista sobre assuntos de língua portuguesa, educação e família.