Com frequência nos flagramos olhando o relógio, não para ver a hora, mas para conferir o dia em que estamos. O dia do mês, bem entendido. Pois o dia da semana o sabemos bem.
Sinal de que o nosso ritmo de vida é ditado muito mais pelas semanas, do que pelos meses. O fato é que somos herdeiros de dois calendários, diferentes, e que devemos sincronizar em cada no. O calendário lunar,de onde derivam as semanas. E o calendário solar, de onde derivam os meses.
Há festas que seguem o ritmo das semanas, como a Páscoa., que cai sempre de domingo, mas que pode acontecer entre os dias 22 de março a 25 de abril.
Há outras que seguem o ritmo dos meses, como o Natal, que cai sempre no dia 25 de dezembro, mas pode acontecer em qualquer dia da semana.
. O calendário dos romanos, que se guiava pelo sol, começava seus meses em março, cujo nome deriva do deus “marte”, padroeiro da guerra. Março era considerado o primeiro mês do ano. Por isto, os meses de setembro a dezembro, ainda hoje, trazem em seu nome o número de sua série. “Setembro” era o “sétimo” mês do ano.
Para a contagem tradicional da lua, ainda se parte dessa série antiga dos meses.
De vez em quando acontecem algumas coincidências, em que os dois calendários se juntam para assinalar a mesma data.
Neste ano de 2012, por exemplo. No dia 31 de março será o fim do mês, e será também o fim da quaresma, que nos leva para a Semana Santa.
Às vezes estas coincidência ajudam. Outras atropelam. Como neste domingo. E´ o quinto domingo da quaresma, mas é também o dia 25 de março, festa da Anunciação. Quando assim acontece, uma das festas passa para a segunda-feira. Assim faz neste ano a Liturgia, que celebra a Anunciação nesta segunda-feira dia 26 de março.
Já foram feitas muitas tentativas de uniformizar os calendários. De tal modo que o domingo de Páscoa caísse sempre no mesmo dia do mês. E o Natal no mesmo dia da semana. Mas até hoje não deu certo. Pois as mudanças propostas implicariam em alterar a sequência da semana. E ninguém quer mexer com a semana.
Em 1581, por exemplo, para se fazer o ajuste proposto pelos astrônomos, que já tinham identificado um sensível desequilíbrio nas estações do ano, se fez uma mudança importante. Passou-se do dia 04 de outubro, para o dia 15 de outubro. Mas não se alterou a semana. O dia quatro foi domingo, e o dia 15 foi segunda-feira. Isto é, se mexeu no mês, não se mexeu na semana.
Como neste ano convém vincular todos os assuntos ao Concílio Vaticano II, é curioso constatar que o Concílio abordou também esta questão. Como aliás não podia deixar de fazê-lo, pois ela tem muitas implicações no “Ano Litúrgico”.
Pois bem, o Concílio colocou o assunto como um “apêndice” ao seu documento “Sacrossanctum Concilium”, que tratava da Liturgia.
Em primeiro lugar, sempre coerente com sua vontade de entrar em diálogo com o mundo moderno, elogiou as tentativas feitas, de se chegar a um “calendário fixo” para as festas litúrgicas, e a um “calendário perpétuo” para a sociedade civil. Mas deu um critério: de todos os sistemas propostos, a Igreja “só não se opõe àqueles que conservam e guardam a semana de sete dias com o domingo”
Isto é, tentem mexer quanto quiserem nos calendários, só não mexam com a semana!
Esta convicção carrega o peso da longa tradição judaica, que a Igreja assume com alegria. Mas certamente traz também a importância do Domingo, dia que sempre nos lembra a ressurreição de Cristo!
*Dom Demétrio Valentini é bispo diocesano de Jales