Sabrina Gallier é empresária, trabalhou por muitos anos no Peixe Urbano, é cofundadora do Nibo, empresa de gestão financeira para PMEs
Esses dias li um artigo onde se cultivava a ideia de um certo ócio saudável ligado a criar prioridades. Basicamente era para aprendermos a dizer não. Dizer muito não. À tudo que NÃO nos faz bem.
Ano passado percebi que aos poucos isso foi meu mantra. Bizarramente, pratico isso há anos no trabalho. Sento no final de cada semana, faço uma lista de coisas pra começar na segunda e sei exatamente qual a minha próxima prioridade. Quando me pedem para fazer mais isso ou aquilo, sou bem categórica em dizer, que no momento não vai ser possível. Obviamente, com todas as exceções e trocas que cada projeto envolve. Quando isso se torna um hábito, existe uma certa leveza e um orgulho por manter o foco, por cumprir com o combinado. As pessoas até passam a respeitar cada não como se fosse um elogio ao processo da empresa eficiente. Mas para gente como eu, quando chega no contexto da vida pessoal, isso é quase um martírio.
Por muito tempo, fomos programados para agradar. Agradar aos pais, aos professores, aos chefes, aos colegas, as pessoas na rua que mal conhecemos. Evitamos o conflito a qualquer custo. Vemos coisas erradas e não dizemos nada, as vezes por preguiça de discutir, as vezes por medo de se envolver. Porque dizer algo requer energia, e dizer não requer coragem.
Um dia resolvi que a minha eficiência profissional ia transbordar na vida pessoal. E passei a achar coragem para evitar o que por vezes tomava meu tempo, minha energia, e simplesmente não era prioridade.
Não vou.
Parei de inventar desculpas para mim e para os outros. Simplesmente respondo que não vou, que o evento não é meu perfil. Seja ele um chá de bebê, um casamento ou uma festinha. Não basta ser importante para os outros, precisa ser importante para você.
Tudo é opcional.
Eu tinha o hábito de fazer muitos planos corridos, uma agenda cheia. E isso às vezes é inevitável, mas não é obrigatório. Se você não é médico e ninguém vai morrer, seja educado e desmarque o que não quiser fazer.
Apenas UM objetivo diário.
Hoje meu objetivo (pessoal) é fazer a aula de yoga das oito. Se eu fizer outras coisas, ótimo. Mas se fizer apenas isso após o trabalho, vou me sentir completamente satisfeita. A vida já impõe muita pressão por si só, adicionar algo extra não nos ajuda em nada.
Nível de expectativa
Ninguém é super herói. Não dá pra agradar a todos e certamente tem bastante gente que não deve gostar de mim. So what? O que antes me incomodava, agora faz parte da vida.
Let it go
Tentando agradar a pessoas que não merecem, só se gasta energia em vão. Como é dito no vídeo do Carlos Brito, a empresa tem que agradar a quem mais dá retorno. Na vida pessoal, temos que focar nas pessoas que mais dão retorno emocional. Posso ter perdido alguns amigos esse ano. Mas com certeza me conectei mais com os que tenho.
E assim, acho que eu e minha geração de multi-comunicação, de milhares de conexões virtuais e de eterna busca por opções online, pode tentar buscar um pouco mais de paz nas coisas que realmente fazem a diferença na satisfação emocional.