Foi
reconhecido há algum tempo, que o corpo humano é colonizado dez vezes mais por
bactérias do que por células, e que a maioria dessas bactérias vivem no trato
gastrointestinal. Estima-se que aproximadamente 100 trilhões de bactérias
ocupam o trato gastrointestinal do ser humano. Esse complexo de bactérias que
vivem no trato digestivo é denominado microbiota intestinal. As
bactérias
compartilham de uma relação benéfica de comensalismo com o hospedeiro; essa
relação acontece quando uma espécie é beneficiada, enquanto a outra não é
afetada.
O
principal benefício para o hospedeiro é a recuperação de energia a partir da
fermentação de carboidratos não digeríveis (fibras) e subsequente absorção de
ácidos graxos de cadeia curta . As bactérias intestinais, tambémdesempenham um
papel importante na síntese de vitaminas do complexo B e da vitamina K, bem como
ácidos biliares, são responsáveis pelos movimentos de contração do intestino,
pela defesa contra microrganismos patogênicos e integridade da mucosa
intestinal, além de necessárias para o desenvolvimento adequado do sistema
imunológico.
Um
desequilíbrio na microbiota intestinal, com aumento ou diminuição de certa
espécie, geralmente causado por uma dieta nutricionalmente desbalanceada, rica
em gordura, açúcar, alimentos industrializados ou uso prolongado de
antibióticos,
pode levar à disbiose. A disbiose promove o aumento da permeabilidade
intestinal, fazendo com que a barreira intestinal perca sua seletividade,
permitindo a passagem de partículas indevidas para a corrente sanguínea,
desencadeando dessa forma, diversas doenças inflamatórias do
intestino,
entre elas destacam-se câncer colorretal e Síndrome do Intestino Irritável, e
doenças autoimunes como a doença de Cronh, além das enfermidades extra
intestinais como esteatose hepática não alcoólica, e as do trato respiratório,
que inclui alergias e asma brônquica, e mesmo
desordens
psiquiátricas, como a depressão.
Com
meio bilhão de neurônios e mais de 30 neurotransmissores (incluindo 50% de toda
dopamina e 90% da serotonina presentes no organismo) o nosso intestino já é
chamado por alguns pesquisadores como “segundo cérebro”.
Novas
pesquisas indicam que os neurônios do intestino se comunicam diretamente com o
nosso cérebro através do nervo vago, afetando o comportamento e as emoções.
Essa rede de neurônios digestivos forma o sistema nervoso entérico (SNE), que é
uma rede de neurônios que percorre todo nosso abdômen, de 6 a 9 metros,
começando no esôfago, passando pelo estômago, intestino e terminando no reto.
Esses
neurônios são responsáveis pela liberação de enzimas e sucos gástricos
envolvidos
no processo de digestão, além de comandarem o intestino para que ele empurre o
bolo alimentar. O SNE é responsável também pelo comando da liberação do
hormônio que sinaliza a fome para o cérebro quando o estômago está vazio. Essas
células nervosas são responsáveis por sensações comuns como frio na barriga
quando se sente inseguro, ou náuseas em situações de raiva e vontade de ir ao
banheiro em situações de estresse.
Tanto
as células nervosas do cérebro como as células nervosas do intestino produzem
substâncias psicoativas que afetam o humor. A presença da
disbiose
também provoca a falta de absorção de vitaminas e inativação de enzimas
digestivas, resultando em prejuízos à digestão e induzindo a fermentação com
sintomas de inchaço, desconforto abdominal, sobrepeso, desnutrição e até
doenças mais graves como Diabetes Melitus tipo II.
O
impacto desses distúrbios entre o cérebro e o intestino motivou a Federação
Brasileira de Gastroenterologia (FBG) a realizar o primeiro estudo sobre a
saúde intestinal da mulher brasileira, onde dois terços das 3.029 entrevistadas
declararam ter inchaço no ventre flatulências e prisão de ventre.
Quando
questionadas de que maneira os incômodos influenciavam na qualidade de vida, 89%
diziam ter variações de humor e 88% reclamavam de menor concentração nas
tarefas cotidianas. Esses números mostram como os sintomas abdominais chegam a
modificar o comportamento. Condições como a síndrome do intestino irritável,
marcada por diarreia ou constipação sem razão aparente, propiciam nervosismo e
depressão – assim como a ansiedade e o baixo astral desequilibram a flora e
patrocinam as crises. Cuidado com seu alimento.