Rogério Assis
** A blindagem aos mais de 300 jornalistas brasileiros na cobertura da Seleção Brasil foi muito bem arquitetada e, até aqui, é um sucesso. Tite não está mais usando o celular que tem usa desde 2012, este foi desligado temporariamente e graças uma patrocinadora da CBF que é de telefonia, mais de 200 novas linhas foram distribuídas a todos que estão na Rússia. De funcionários a jogadores, e obviamente que aparelhos também faziam parte do pacote. A ordem, em tempos de WhatsApp, é estar o maior tempo possível “desligado”, portanto nem adianta tentar falar com jogadores e membros da comissão técnica pelos números habituais.
** A assessoria da CBF, dos jogadores e dos membros da comissão técnica trabalham em sintonia também para que ninguém dê entrevistas exclusivas, o que irritou muito a Globo, mas este pedido, feito por Tite, foi prontamente atendido por todos. O treinador não quer nada tirando os jogadores do foco principal, sem badalação e principalmente repercussões negativas com algumas preferências por emissoras e profissionais.
** Um roteiro elaborado com a participação de jornalistas da CBF e da comissão técnica cumpre um ritual. Faltando quatro dias para um jogo, após o único treino do dia, apenas um jogador vai para a coletiva de imprensa. Ele chega após a atividade devidamente orientado pela assessoria que tenta descobrir o que pode ser explorado naquele dia. Antes ele passa por Tite, e o treino até pode ser visto e registrado, mas com ressalvas.
** Um dia depois, restando três para uma partida, o treino pode ser acompanhado por apenas 20 minutos. Dura em torno de duas horas e os jornalistas são isolados numa sala ou do lado de fora do local dos treinos, quando acaba, ao menos um jogador fala.
** A 48 horas de uma partida não há entrevistas após um treinamento que é totalmente fechado. A delegação então viaja da paradisíaca Sochi rumo ao local do jogo. Na véspera do jogo, a Fifa obriga Tite e o capitão a falarem por meia hora, e para diminuir o tempo de exposição, o treinador tem levado seus auxiliares Silvinho e Cléber Xavier. Depois dos jogos, o treinador volta para as entrevistas e os jogadores, quase duas horas depois saem para ainda falarem. Se tiver algum jornalista porque a demora é muito grande e eles ainda saem em bloco tentando driblar microfones e até celulares que se espremem na busca por uma declaração.
** A estratégia de saírem em grupo ainda ajuda a falar pouco, e existem até os que não falam como fizeram Neymar e Firmino após o jogo contra a Costa Rica. Entrevistas exclusivas e especiais para TVs e rádios só depois da Copa, mas é claro, só se o título vier, e mesmo a Globo, a dona da Seleção, tem que se sujeitar a esta cartilha. A esculhambação de 2014 acabou e nem mesmo o privilégio de exclusivas com Neymar, como na Copa passada, foi mantido graças à interferência de Tite que desde o início impôs condições especiais para seu trabalho.