W. A. Cuin
“Certamente, a doação de qualquer natureza sempre beneficia aquele que lhe sofre a falta. Todavia, para que a caridade seja alcançada, é necessário que o amor se faça presente, qual combustível que permite o brilho da fé, na ação beneficente”. (Joanna de Angelis, psicografia de Divaldo P. Franco, no livro “Vigilância”).
Anualmente, ao se aproximar o natal, tempo em que cresce a expectativa das crianças, ansiosas por um presente, a Associação Beneficente, que abriga diariamente mais de uma centena delas, prepara sua campanha de brinquedos.
Busca junto aos corações amigos e mediante campanhas, recursos para a aquisição dos brindes que distribui aos “pequenos”. Muitos são os doadores, a maioria anônimos, que agasalham no íntimo, a imensa alegria de fazer a alegria dos mais carentes.
Mais uma dessas campanhas estava em andamento, quando a Associação recebeu a visita do senhor Augusto, criatura gentil que sempre procurava ajudar, de alguma forma, para que nenhuma criança ficasse sem a esperada visita do “Papai Noel”.
Como de costume entregou à organização da campanha aludida, os recursos de que pode dispor, enquanto junto a um grupo de irmãos saboreava uma xícara de café e conversa assuntos do momento.
- Augusto – interpelou o responsável pela coleta dos recursos financeiros - o senhor já está aposentado?
- Não, ainda não, aliás, na verdade, eu não posso...
- Não conta com o tempo necessário?
- Já completei o tempo determinado pela lei há mais de dez anos...
Todos acompanhavam o diálogo e com aquela resposta, olhares foram trocados, indagação e muita curiosidade. Por que será que o senhor Augusto não poderia se aposentar?
- Não pode, Augusto, não estamos entendendo...
- Acontece que em minha casa moram a minha sogra e a minha mãe. Ambas estão muito doentes e necessitam de tratamento intenso. Estão acamadas há anos e como somos somente eu e minha esposa que cuidamos delas, não damos conta de todas as atividades que precisam ser desenvolvidas, contamos, então, com ajuda de enfermeiras, dia e noite.
Os custos com tais profissionais e com os medicamentos, mensalmente, são muito altos, assim preciso de uma renda suficiente para cobrir os gastos necessários.
Se me aposentar, diante do mecanismo inserido na lei específica, perco parte do meu rendimento mensal, o que criaria sérios problemas para o atendimento das nossas doentes.
- Mas, Augusto, não existem outros familiares que possam ajudar?
- Existem, sim, mais familiares. Uns não possuem condições financeiras para contribuir, outros não se dispõem a ajudar, então, para que nada falte às duas idosas, que estão sob a nossa guarda, eu não posso me aposentar...
Como não se comover com tamanho exemplo de altruísmo, solidariedade, desprendimento e amor ao próximo?
Muitas vezes oferecemos um prato de sopa a um irmão do caminho, um agasalho a quem tem frio, duas ou três horas por semana de trabalho voluntário e acreditamos estar fazendo uma obra monumental.
Claro que o nosso trabalho, em favor do necessitado, tem valor, mas pouco comparado ao que o senhor Augusto realiza.
Refletindo... será que não podemos fazer um pouco mais?
A caridade feita, não importa o tamanho, é sempre valiosa benção em quaisquer circunstâncias... mas, estaremos colocando todos os “talentos”, que o Senhor nos confiou à serviço da humanidade?
Pensemos nisso.