Dados da Organização Mundial da Saúde dão conta de que o Brasil possui perto de 12 milhões de pessoas deprimidas - é o país mais deprimido da América Latina.
E isso com todo esse samba, carnaval, futebol e churrasco!
E funk, e sabe lá mais o que, meu Deus.
Pois é.
Mas o caso é que eu tenho sérias razões para desconfiar de que esses números não retratam exatamente a realidade.
Dia desses, vim a saber que uma pessoa, que eu julgava a mais paciente e calma do planeta, a quem inúmeras vezes perguntei: como você aguenta? Você não se irrita? - usa calmantes há muitos, muitos anos. E dos fortes, hein!
Então. Daí que refleti que, até por vaidade, deve ter muita gente por aí tomando seu remedinho às escondidas, e posando de personalidade maravilhosa – um doce, um anjo, uma fofa – e por aí vai...
O fato incontornável é que vivemos hoje uma vida pra lá de miserável em termos de qualidade: por mais dinheiro que se tenha, você vai estar rodeado de violência e miséria por todos os lados: o planeta é um só e está lotado de gente: os recursos que já são poucos, diminuem a olhos vistos dia a dia; exige-se mais e mais trabalho, de quem já não tem saúde pra trabalhar. A vida vai a reboque. E a um custo cada vez mais alto.
Exaustas, as pessoas aceitam de bom grado o primeiro remedinho que as faça parar de angustiar-se. E habituam-se, afinal, onde mais encontrar amparo?
Num mundo girando à velocidade da luz, atrás de recursos que não existem mais, com milhões de famintos e infelizes usados unicamente para a sanha consumista, onde encontrar uma mão amiga? Ou ao menos, não extorsiva?
O fato incontornável é que o “salve-se quem puder”, nunca foi tão cruamente escancarado, ao menos não na sociedade “civilizada”; sim, pode-se imaginar que na idade da pedra as coisas fossem, de fato cruentas – mesmo, principalmente quando não havia o fogo -, mas com toda certeza ninguém era pressionado a ter sua caverna própria em condomínio de alto padrão, o javali ou o cavalo do ano e mamutes congelados no freezer de última geração.
A velocidade, o individualismo exacerbado desta época, trouxeram a angústia de que não se está mais dando conta.
Uma maratona em que só há perdedores.
E milhões que se negam a dar o braço a torcer à realidade, tão evidente, e tão hipocritamente escamoteada.
E é assim que vamos mutilando, descartando, soterrando, mais e mais gente, jovens, muitos jovens, por força da instituição de um estilo de vida besta. Muito, muito besta.